Nossa luta pela transparência continua. Aqui você sabe quanto foi repasado à conta do FUNDEB

DO JUIZ AO RÉU, TODO MUNDO LÊ O BLOG EDUCADORES DE PORTEL

quarta-feira, 8 de julho de 2020

CRÔNICA DA INDOLENTE INQUIETUDE

Ri muito é resolvi compartilhar essa realista crônica do meu amigo Pinga. Infelizmente tem muitos preguiçosos e invejosos por aí. 

POR LUIZ SÉRGIO DE CARVALHO

Escondido entre suas frustrações mais perversas, o rapaz de estatura mediana e sorriso largo, desfilava morosamente pelas ruas do então lamacento pedacinho do céu, toda sua raiva e ojeriza às pessoas que apresentavam ter tido sucesso em suas trajetórias de vida.
Diziam as más línguas que o sujeito tinha aversão ao trabalho. O ócio, a vadiagem eram os estados que mais lhe eram aprazíveis. Essa característica, pouca ou falta de disposição para o trabalho, lhe era constante.
Desfrutando das sombras da antiga árvore da Praia do Arucará, ele se punha a lamentar das agruras que a vida lhe ofereceu. 
Não havia amealhado nada em toda a sua vida, enquanto seus antigos amigos, contemporâneos, quase sem exceção, se constituíram em prósperos comerciantes ou profissionais liberais. Desse modo, observava um amigo ou irmão crescendo na vida, e ele, mesmo com uma imensa vontade interior de vencer, não tinha sequer uma bicicleta. 
Assim, vivia desmotivado, colecionando fracassos e esse desgosto, talvez fosse provocado pela felicidade ou a prosperidade alheia, ou seja, o jovem sentia inveja do sucesso das pessoas.
Essa sua grande insatisfação pessoal, tamanha inquietude, lhe corroía por dentro. 
- Meus Deus! Dizia ele.
- Por que todos os meus amigos têm algo e eu não? Continuava o insatisfeito.
- Será que fizeram alguma macumba contra mim? Esbravejava o cético.
E assim, entre lamúrias, frustrações e dúvidas, o jovem seguia sua vida de infortúnios e insucessos.
Certo dia, ao encontrar um amigo, confessou-lhe suas inquietações.
- Mano velho, estou nesta terra há um bom tempo e não tenho nenhuma posse, enquanto que todos meus contemporâneos possuem bens! 
- Será que estou sob o controle de alguma entidade negativa? 
- Acho que fizeram macumba pra mim! Esbravejou o frustrado.
O interlocutor ouviu-o com bastante atenção e replicou.
- Se pensas que está acontecendo isso por que não procuras um pai de santo?
- Se quiseres, poderemos solicitar consulta com um pai de santo que mora no Rio Jacaré Purú! Incentivou o amigo.
- Ele é muito bom e vai solucionar teu problema!
Assim sendo, já cansado de tantas derrotas em sua vida, aceitou o conselho do amigo e partiram em direção ao terreiro do místico.
Destino alcançado, atracaram a “rabeta” no pequeno trapiche construído com árvores nativas de açaí e rumaram ao terreiro.
Encontraram muitas pessoas sentadas em bancos à espera do pai de santo. Aquela cena lhe rendeu esperanças. Todo aquele povo não estava ali à toa. O místico deveria ser, verdadeiramente, bom.
Em meio a cantos e batidas de tambor, eis que surge o pai de santo vestido de camisa e calça brancas, colar no pescoço e cachimbo na boca, este incorpora a entidade e inicia o atendimento.
Após horas de espera, chega a vez do desventurado ser atendido. Ele é levado à presença do pai de santo que o interroga.
- “Misifio”, o que tu tens?
- Ah, meu pai, moro nessa cidade de Portel há tempos, consegui fazer muitos amigos, mas, eu não tenho nenhuma posse. Todos os meus amigos com a mesma idade que eu têm suas coisinhas. Um acolá tem um carro, o outro uma moto, o fulano possui uma casa com todas as coisas dentro, e eu, eu não tenho nada. O que há comigo, o que eu tenho, meu pai? Perguntou o queixoso.
O pai de santo fixou o olhar no jovem choroso e, tal qual um filósofo, esbravejou:
- O que tu tens é preguiça, “misifio”, vai trabalhar como fizeram seus amigos que tu vais ter alguma coisa na vida!
O jovem, no mesmo momento, se retirou do terreiro desencantado e crente que a entidade havia dito a verdade.
Passou a trabalhar com a força de um Sansão, utilizando outros atributos e qualidades que possuía. Passou a ter autoestima e acreditou que era merecedor de receber a graça de conquistar tudo que almejou na vida, estando, hoje, a viver confortavelmente, desacreditado de um dia ter sido enfeitiçado negativamente.

Nenhum comentário: