O ÁRDUO TRABALHO DO PROFESSOR DO CAMPO EM PORTEL
Quando ela resolveu pedir transferência da localidade onde deu aulas por vários anos, passou a morar comigo, na cidade, e precisava de uma escola mais próxima. Foi aí que ela conseguiu lotação na escola Ezídio Maciel, a aproximadamente 12 quilômetros da sede do município. De início o transporte era feito através do rio, principalmente no barco de sua mãe. No entanto, sabendo que havia um estreito caminho que ligava Portel à localidade Boa Vista, passou a fazer limpeza, transformando o caminho em uma verdadeira estrada. A consequência dessa atitude, que inicialmente tinha o propósito de servir unicamente aos professores, viria se tornar uma opção a mais para os moradores da região, que hoje a utilizam para o transporte de seus produtos.
O trabalho de professor nunca foi uma tarefa fácil. Inclui estudo durante longos anos e, após a conclusão do curso, a jornada continua em infindáveis cursos de capacitação, ladeada de gastos diversos, aí incluídos os livros, apostilas, internet (é, isso mesmo, o professor moderno utiliza-se dessa ferramenta também). Claro que tem que cumprir seus horários, faça chuva ou faça sol, sempre pressionado pelos muitos prazos. E ainda tem que dar conta de sua família, pois não é imaginável apenas cuidar do filho alheio, senão a coisa despenca. Evidente que ultimamente as famílias vivem de sobressalto, levando muitos pais a entregarem seus filhos aos cuidados da escola e nem sequer se dão ao luxo de conhecer os professores, ou seja, só aparecer, isso se aparecerem, para resolver algum problema.
Entretanto, é óbvio que tudo se torna mais difícil quando o trabalho do professor é realizado no meio do mato, como na floresta Amazônica, onde o transporte é feito através de barco. Aí a coisa fica séria. Muitas vezes a situação se agrava pelo fato do professor ser destacado para prestar esse difícil trabalho em lugares inóspitos, cheios de mosquitos da dengue e malária, rios infestados de piranhas, jacarés e cobras, às vezes potencialmente venenosas. Nossa, pela descrição, esse professor está me parecendo a personagem Indiana Jones. Depois de passar por toda uma série de dificuldades ainda tem que passar por uma avaliação mal conduzida por uma equipe de técnicos que muitas das vezes nem dispõem de um setor de estatísticas, levando-nos a concluir que tudo não passou de um achismo, de um pré-julgamento, uma condenação sem chances de defesa. Geralmente tais pressupostos são tomados por pessoas que desconhecem a realidade do campo. Lembro-me da última Conferência Municipal de Educação conduzida pela SEMED na quadra do Nicias Ribeiro, onde um professor atacou a minha idéia de criar um grupo para debater essa modalidade. Segundo o professor, não existe diferença entre a educação do campo e a urbana. Infelizmente existem mentes assim.
Essa história que passo a contar começa no dia em que conheci minha esposa, a Odinéia. Ela já exercia a função de educadora há pelo menos dez anos, sempre na zona rural, em uma escola, como é comum no interior de Portel, localizada em propriedade de sua mãe, local sem energia elétrica, nem água encanada, muito menos telefone. Ou seja, parece coisa do século XIX, onde as pessoas são desassistidas de seus direitos básicos, como o da comunicação. E ainda tinha que encarar os desmandos dos governos autoritários que se utilizavam do antiquado contrato, ou seja, não realizaram concursos públicos durante todos esses anos que ela trabalhou noite e dia em prol das famílias dos ribeirinhos. No fim do ano, quando o contrato expirava, sentia-se desamparada, aquela incerteza se estaria ou não empregada no ano seguinte. Houve inclusive uma vez que um determinado prefeito não a contratou. O resultado foi imediato: os ribeirinhos recusaram o professor. Esse foi um ponto positivo, pois demonstra que se deve levar em consideração a comunidade na hora de se mexer com um professor que desenvolve um bom trabalho. Depois de seis meses o prefeito resolveu devolver a professora para o seu devido lugar. E olha que esse prefeito era tido como um autoritário, um verdadeiro Hitler. Independentemente da imagem que este ostentava, agiu sob a luz do equilíbrio, denotando que talvez tenha sido mais uma vítima do achismo, aquela opinião que se levanta acerca de algo ou alguém sem considerar outros fatores, ou seja, julgamento imaturo.
PROFESSOR PASSA POR PONTE VELHA |
Mas, para isso, foi necessário recorrer ao setor privado, uma vez que não tivemos sucesso ao buscar apoio da prefeitura. E, para mostrar a seriedade da nossa intenção foi necessário elaborar um projeto com o objetivo de limpar, ampliar a largura e construir uma série de pontes, porque durante toda a viagem existem pequenos córregos e igarapés, sem considerar o fato de a maior parte do trajeto ser constituída de areia. Nas primeiras viagens feitas de moto, atravessamos um desses igarapés, na área da localidade conhecida como Campinas, onde vive o lendário Pedrão, e a minha Honda 125 atravessou como se fosse um submarino, sendo totalmente encoberta pela água fria e corrente. A máquina afogou durante o trajeto, funcionando após muito esforço. Nesse momento pensei que isso era uma loucura, colocar um equipamento tão caro para funcionar como se fosse um veículo aquático. Como era de se esperar, tive um prejuízo enorme com peças e mão-de-obra.
No sentido de se fazer uma boa viagem pelo mato, tem que se verificar o nível do óleo, calibramento de pneus, kit de transmissão e, nesse último, o cuidado aumenta, o que me força a levar nos bolsos da calça um alicate e chave de boca de 20 mm. Ocorre que no trecho Portel-Boa Vista há muita lama, areia e água, levando a corrente a esticar. Em duas ocasiões distintas a trava da corrente soltou. Na primeira vez eu havia passado a antiga ponte da Prainha, um pequeno córrego que inunda nesse período de chuva de inverno. Como a ponte já não oferecia muita utilidade e o igarapé estava seco, fiz uma descida brusca e, ao subir, percebi que não tinha tração. Odinéia olhou pra trás e viu a corrente caída no chão, quase engolida pela areia. Esse é outro desafio: quando não chove a areia fica solta, causando entrada de areia no motor da moto o que, por consequência, acaba com os anéis de segmento. O resultado não é outro: uma fumaça branca que significa obviamente queima de óleo, o que é um sério dano, pois pode trancar a máquina. Os pneus são elementos a serem seriamente considerado. Os meus eram lisos, típicos de asfalto. Tive que trocá-los por pneus tacudos, para ganharem tração na areia e assim evitar a patinação e possível queda.
Na segunda vez que a corrente arrebentou, tínhamos saído da área da comunidade da Prainha, a poucos metros da porteira da fazenda Bom Jesus, de propriedade da família Rebelo. Nesse dia não havia aulas (hoje as crianças de Portel estudam até nãos sábados, um dia vão estudar aos domingos e feriados!) e era sábado, mas minha esposa iria participar de uma reunião na Boa Vista – a comunidade onde se localiza a escola Ezídio Maciel - e eu faria uma limpeza da estrada junto com os amigos da comunidade Pinheiro. Decidimos então voltar até a Prainha, onde o Cotó, morador da vila, consertou a corrente. Por sorte, ele disse que já tinha feito isso antes na moto do Antônio, ex-gerente da fazenda. Foi cansativo empurrar a moto por cerca de mil metros, tanto pra mim quanto para a Odinéia, a qual carregava uma caixa cheia de cachaça. Certo momento da viagem ela ficou tão irritada com o atraso, que ameaçou deixar a caixa pelo caminho. Ao chegarmos
a casa do Cotó, um grupo de jovens que percorria a mata montados de bicicletas contou que encontraram algo que nos pertencia. Acho que estávamos tão cansados que nem percebemos cair do guidão da moto uma sacola contendo feijão e charque, justamente a comida dos “nossos trabalhadores”, como costuma chamar Odinéia. Não pagamos ninguém para fazer a limpeza da estrada, já que eles entendem que a mesma não serve somente para nós professores, mas também porque nós utilizamos do sistema de mutirão. Tudo que eles exigem é uma caixa de cachaça, pura. Lógico que eles despreendem um certo esforço porque saem de suas casas de bicicleta e se deslocam até a região mais tomada pelo mato e cortam tudo com afiados terçados, às vezes sob escaldante, entre onze horas até as quinze horas. Realmente extenuante. Pensando nisso, decidimos comprar também comida para que ninguém passe mal. Foi algo muito legal porque sentimos que as pessoas agiram com honestidade ao devolver um produto perdido. Outra coisa legal mesmo foi quando, ao tentarmos pagar o trabalho do Cotó, este disse que não custava nada, o que ele queria mesmo era que a gente chegasse ao nosso destino.
Na primeira vez que limpamos a estrada contamos com a ajuda de vários comerciantes da cidade. Odinéia propôs aos demais professores da Escola Ezídio Maciel um projeto e, como todo projeto, tem um custo. Partimos então em busca desse apoio financeiro. Foi gratificante, pois todos ajudaram. Lembro-me que um único comerciante que não contribuiu, mas com um motivo justo e todos nós o compreendemos. Ele estava fazendo gastos semanais na ordem de 2 mil reais na construção de uma casa. No entanto, houve outros que deram pouco, como 5 reais ou um quilo de prego, bem longe de valores como cem reais. Nessa abordagem, ouvimos um senhor não do empresário Josinaldo Pantoja. Minha esposa confessou pra mim que deu vontade de pegar o projeto das mãos do empresário e se retirar do estabelecimento. Disse:
- Não! Não vou ajudar! - Parecia muito irritado com a nossa proposta.
- Não vou ajudar porque isso é tarefa da prefeitura, tem dinheiro pra isso. -, explicou dando um murro na escrivaninha - vocês são professores, o papel de vocês é ensinar, disse num tom de revolta.
Ele iria ajudar, eu sabia, aquele homem sisudo tem um grande coração. E inclusive tinha certeza que o povo é mesmo mal tratado pelos mais diversos prefeitos que já passaram por este município. E eu atuava nessa missão como argumentador. Odinéia apresentava o projeto e Evandro apoiava, papel desempenhado por ele em nome de dezenas de outros profissionais. Nesse caso expliquei ao empresário que sempre passei de barco ou navio em frente das comunidades Prainha, Queimada, Cumaru, Pinheiro e desejei sinceramente morar num lugar desses. Vislumbrava aquelas lindas praias, sombras, casinhas brancas e achei tudo isso muito prazeroso, vida tranquila, muito vento. Porém, no dia em que fiz a minha primeira incursão no meio da floresta vi a dificuldade: pontes quebradas, muita areia, água encobrindo a metade da moto, árvores caídas no meio da estrada e até pontes feitas com tronqueiras de açaí. Crianças chegam às escolas molhadas porque caem dessas “pontes” e atravessam córregos a pé. Depois de ouvir tudo isso, Pantoja perguntou onde poderia ajudar. E ajudou dizendo que faria isso por nós professores, que fazem tanto esforço e que esse é um trabalho para o governo.
Outro cidadão que nos repreendeu foi o madeireiro Bethovem, da Bethovem Madeiras. Falou naquele tom alto e forte que é bem familiar a todos que o conhecem, que “isso é uma vergonha”, e que também “o povo daquelas comunidades não é respeitado pelas autoridades, só querem o voto deles”. Esculhambou com nós, porém ajudou com um cheque no valor de 200 reais para pagar um motoqueiro cortar uma árvore caída e doada por um morador da vila Cumaru. Justo pagar o cara, Zé Carlos, porque ele usou a própria motosserra e esse material não é barato, muito menos sua manutenção.
Outro sujeito que ficou surpreso com a nossa atitude foi o gerente da fazenda Bom Jesus. Certo dia ele cavalgava em seu cavalo e deu de cara com a professora Odinéia, no meio do mato, de terçado em mãos, capinando. Disse que já andou por todo o Brasil, mas nunca tinha visto algo parecido. Indagou se não existia algum projeto do governo no sentido de fazer uma estrada para aquelas mais de 240 famílias (mais de 2700 moradores). Explicamos que muitos cidadãos portelenses nasceram, cresceram e morreram ouvindo essa história de estrada e que ninguém mais acredita em político algum dessa região quando o assunto for estrada.
Apesar do trabalho realizado com muito sacrifício tanto da nossa parte como da parte dos comunitários, houve crítica oriunda de políticos, tachando nossa obra de construção de pontes um serviço mal planejado. Esquece a tal figura que ela esteve no poder com força de vereador e nunca conseguiu um feito de tamanha grandeza como o nosso, realizado e parceria com pessoas humildes, carentes de benefícios como o transporte. Interessante também a mesma figura que nos criticou continua no poder e é incapaz de tomar uma atitude de liderança para tornar realidade muitas realizações em prol dos ribeirinhos.
Essa gente mora tão perto de nós, cidadãos urbanos, no entanto vivem sem eletricidade, sem saúde, com educação de péssima qualidade. Nesse tocante vemos a secretaria de educação enviar professores contratados que não receberam a devida preparação para dar aulas, num retrocesso que lembra os anos 70, quando pessoas que mal sabiam ler e escrever se tornavam educadores, um fato lamentável que dizimou e queimou as etapas de muitos estudantes.
segunda-feira, dia 09/05. Fui até o posto de gasolina da Shell por volta de 06:00 h. Poderia ter abastecido a moto no domingo e assim ganhar tempo na viagem. Tentei. Entretanto, fui ao posto depois das 19:00h e, coincidentemente, houve uma concessão de saída mais cedo devido ao dia das mães, e frentista também tem mãe.
Na parte do igarapé Muim-Muim senti aquele arrepio ao ver o tamanho da água. Não teve outro jeito: desliguei a máquina, tapei a descarga com o fundo de uma garrafa peti e atravessei o aguaceiro. Quase cobre a moto.
Cerca de 30 metros adiante tem mais água, porém não chega a cobrir o motor da “Guerreira”, apelido dado à minha Honda pelos motoqueiros estradeiros. Depois desses 15 metros de alagadeiro é só areia, sendo que, nesse período de chuva, se encontra bem compacto, o que permite uma corrida sem risco de derrapagem. Aproximadamente uns 100 metros a festa acaba e aí vem mais água. Novamente recorro ao fundo de garrafa de refrigerante que, diga-se de passagem, foi idéia da Odinéia. A areia tenta engolir as rodas, tendo como comparsa a água, a qual impede um movimento rápido. Tem que fazer força. Sozinho, pois minha companheira está sempre muito ocupada, carregada de mantimentos, materiais didáticos.
Vencido esse trecho alagadiço, cuja água provém principalmente da constante chuva, característica desse tempo de inverno, percorremos um longo e estreito caminho, ladeado por mato, plantação de milho, mandiocas e, às vezes, cães. As casas são raras, bem humildes. Creio que são uns 200 metros de puro chão, havendo uma descida que dá vazão a areia, sinal de que vem mais água pelo caminho.
MARIPAJÓ, A TERRA ESQUECIDA
Certo dia me candidatei ao cargo de conselheiro do antigo FUNDEB pela categoria dos pais, a convite da minha filhota Jennifer, a qual era estudante da 3ª série na escola Rafael Gonzaga. Eu que sempre gostei de participar dos movimentos sociais de minha cidade, logo estava inscrito e parcipando, inclusive ganhando, não em termos de vencer a corrida entre dezenas de candidatos, mas ganhando vantagens que até então eu desconhecia. A primeira delas foi a oferta de trabalhar na zona rural, apesar de ter sido submetido a concurso para exercer o cargo de professor na zona urbana e, inocentemente, aceitei dar aula de inglês no sistema modular , sem saber que aquilo era um cala-boca, uma forma de me comprar para votar sem verificar notais fiscais e outros documentos comprobatórios da aplicação do recurso da educação. Bem, de qualquer forma, lá estava eu designado a trabalhar ora numa região, ora noutra, e assim por diante, se é que esse adiante adiantou mesmo.
Segui para um rio chamado Maripajó, para trabalhar numa comunidade chamada de Perpétuo Socorro, na fronteira com o município de Melgaço. Inicialmente fomos morar na vila Jeová Samá, mas não aprovou muito aquele vai e vem todos os dias e acabei decidindo viver no alojamento da Perpétuo Socorro, mesmo sem água encanada e energia elétrica. Não eram apenas obstáculos esses elementos fundamentais para gente da cidade como eu, mas tinha outros problemas, tal como a falta de um banheiro, pois nem mesmo os alunos dispunham disso. Faziam suas necessidades no banheiro tosco do Domingos, o então dirigente da comunidade. Imagina que os alunos tinham que andar por cima da ponte uns 30 metros, passar por dentro da casa do dirigente e caminhar por cima de umas toiceiras de açaí, algo que eles ousam chamar de ponte.
Resolvi, diante desse problema, conversar com os comunitários e esses me disseram que já fazia um tempão que tinham feito reivindicações no sentido de melhorar a infra-estrutura da escola, mas não haviam obtido êxito, nem através da direção escolar nem através do próprio prefeito. Indagados a respeito de uma parceria entre a comunidade e a SEMED, eles me informaram que já tinham feito essa proposta. Falei da minha vontade em ir até a cidade e levar ao conhecimento do então secretário de educação Orzirio Santana e imagina a reação deles simplesmente não acreditaram que isso fosse possível, primeiro vi essa incredulidade nos olhar de alguns deles, depois ouvi da boca de cada um.
Então, no período do pagamento dos professores, me dirigi a SEMED através do conselho do FUNDEB e apresentei a proposta de parceria e o Orzirio pediu que eu apresentasse um oramento. Assim, dentro de três dias eu estava de volta a comunidade, com uma pilha de madeiras. Mas a confusao estava armada. A diretora do pólo achou que eu estava passando por cima de suas competências e cobrou duramente os três dias que fiquei ausente da escola, imputando a mim a imagem de preguiçoso e irresponsável. Foi mais um desafio, pois eu pensava que ganharia aplausos por ter conseguido melhorias para a área de abrangência da diretora, ganhei foi apedrejamento. Parabéns pra mim. Continuo essa história mais tarde, porque o dia já vem clareando.
MARIPAJÓ, A TERRA ESQUECIDA
Certo dia me candidatei ao cargo de conselheiro do antigo FUNDEB pela categoria dos pais, a convite da minha filhota Jennifer, a qual era estudante da 3ª série na escola Rafael Gonzaga. Eu que sempre gostei de participar dos movimentos sociais de minha cidade, logo estava inscrito e parcipando, inclusive ganhando, não em termos de vencer a corrida entre dezenas de candidatos, mas ganhando vantagens que até então eu desconhecia. A primeira delas foi a oferta de trabalhar na zona rural, apesar de ter sido submetido a concurso para exercer o cargo de professor na zona urbana e, inocentemente, aceitei dar aula de inglês no sistema modular , sem saber que aquilo era um cala-boca, uma forma de me comprar para votar sem verificar notais fiscais e outros documentos comprobatórios da aplicação do recurso da educação. Bem, de qualquer forma, lá estava eu designado a trabalhar ora numa região, ora noutra, e assim por diante, se é que esse adiante adiantou mesmo.
Segui para um rio chamado Maripajó, para trabalhar numa comunidade chamada de Perpétuo Socorro, na fronteira com o município de Melgaço. Inicialmente fomos morar na vila Jeová Samá, mas não aprovou muito aquele vai e vem todos os dias e acabei decidindo viver no alojamento da Perpétuo Socorro, mesmo sem água encanada e energia elétrica. Não eram apenas obstáculos esses elementos fundamentais para gente da cidade como eu, mas tinha outros problemas, tal como a falta de um banheiro, pois nem mesmo os alunos dispunham disso. Faziam suas necessidades no banheiro tosco do Domingos, o então dirigente da comunidade. Imagina que os alunos tinham que andar por cima da ponte uns 30 metros, passar por dentro da casa do dirigente e caminhar por cima de umas toiceiras de açaí, algo que eles ousam chamar de ponte.
Resolvi, diante desse problema, conversar com os comunitários e esses me disseram que já fazia um tempão que tinham feito reivindicações no sentido de melhorar a infra-estrutura da escola, mas não haviam obtido êxito, nem através da direção escolar nem através do próprio prefeito. Indagados a respeito de uma parceria entre a comunidade e a SEMED, eles me informaram que já tinham feito essa proposta. Falei da minha vontade em ir até a cidade e levar ao conhecimento do então secretário de educação Orzirio Santana e imagina a reação deles simplesmente não acreditaram que isso fosse possível, primeiro vi essa incredulidade nos olhar de alguns deles, depois ouvi da boca de cada um.
Então, no período do pagamento dos professores, me dirigi a SEMED através do conselho do FUNDEB e apresentei a proposta de parceria e o Orzirio pediu que eu apresentasse um oramento. Assim, dentro de três dias eu estava de volta a comunidade, com uma pilha de madeiras. Mas a confusao estava armada. A diretora do pólo achou que eu estava passando por cima de suas competências e cobrou duramente os três dias que fiquei ausente da escola, imputando a mim a imagem de preguiçoso e irresponsável. Foi mais um desafio, pois eu pensava que ganharia aplausos por ter conseguido melhorias para a área de abrangência da diretora, ganhei foi apedrejamento. Parabéns pra mim. Continuo essa história mais tarde, porque o dia já vem clareando.
2 comentários:
Bem mais difícil do que tudo isso é servir de puta para um diretorzinho que se satisfaz sexualmente através da opressão, já que uma professora contratada dificilmente rejeitará seu diretor que a contratou, nessas infindáveis noites culturais. Lia sua matéria sobre a professora sem calcinha e sei que isso continua acontecendo em Portel. Uma professora que atende aos anseios sexuais desse tipo de gentinha certamente está se prostituindo.
Ao responder ao seu comentário, caro (a) internauta, lembro-me dos tempos da AMACOL, quando fatos dessa natureza pareciam ser uma norma de admissão na empresa, ou como forma de manutenção do emprego. Conheo pessoas idosas que ainda relatam suas experiências diante de um chefete. Favores assim redundariam em processo por assédio sexual, mas ninguém da educação parece convencido de que tem esse direito. Obrigado pelo comentário e visite sempre
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