Nossa luta pela transparência continua. Aqui você sabe quanto foi repasado à conta do FUNDEB

DO JUIZ AO RÉU, TODO MUNDO LÊ O BLOG EDUCADORES DE PORTEL

domingo, 28 de agosto de 2011

MORTE DE CRIANÇA CASADA REACENDE DEBATE: ESCOLA DEVE INTERVIR?

Ronaldo de Deus Machado
Depois da morte de uma garota de 12 anos na zona rural de Portel, reacende o debate sobre esse comportamento humano de casar em tenra idade.
Segundo informações do Conselho Escolar da Escola Ezídio Maciel, no rio Acutipereira, muitas adolescentes estão abandonando os estudos após engravidarem e/ou casarem. Tal preocupação já foi manifestada por uma professora da escola Ezídio, porém não conseguiu sensibilizar os demais colegas, os quais dizem estar preocupados com os conteúdos de suas disciplinas.
Nos últimos meses, pressionados não pelas mazelas sociais, mas para atender ao prazo dado pelo Conselho Estadual de Educação até 31 de dezembro,  há uma corrida contra o tempo para se elaborar o Projeto Político Pedagógico (PPP). No entanto, discussões sobre tais sugestões parecem distantes de acontecerem visando à realidade. A metodologia usada no diagnóstico se restringe a aplicação de questionários, que a meu ver, não provocam discussões produtivas. Parte desse problema surge do despreparo de diretores e coordenadores, os quais não possuem experiência na criação de um PPP. Tanto é verdade que o questionário já vem pré-formatado pela SEMED. Quem elabora deixa de lado a manifestação singular de cada cidadão envolvido no processo, pois restringe o questionário a perguntas que só ele ou ela, como um superpedagogo, vê. Esses questionários são os mesmos vistos em todos os pontos do município de Portel. Agora eu pergunto: onde fica a peculiaridade? É tão fora de rota que há professores que não respondem parte do questionário porque simplesmente não diz condiz com sua realidade.
Muito embora os dados estatísticos mostrem um número elevado de analfabetos e analfabetos funcionais, esse povo faz a leitura de mundo. Digo isso porque essa gente conhece seus problemas e, uma vez provocado por um bom intermediador, sabem dizer onde dói, trazendo a baila problemas que os afligem. Dessa forma, alunos, pais, professores, pastores, dirigentes comunitários, serventes, barqueiros escolares, associações, conselho tutelar, etc, cada uma dessas personagens apresenta problemas relacionados às suas categorias. Só o aluno sabe dos seus problemas; só os professores sabem dos seus problemas; só os pais sabem dos seus problemas, etc. Assim, grupos de trabalhos são montados e estes propõem medidas e sugestões visando à resolução de dado problema.
Ressalte-se, porém, que essa região já fez um PPP, o qual contou com todos os segmentos, mas depois de sistematizado e ter-se despendida uma fortuna pela SEMED e consumido o tempo precioso de todos os agentes envolvidos, o documento foi arquivado. As ações que deveriam estar dando novos rumos à educação no campo parece que não interessa aos governantes. Nesse momento a situação se complica, pois a população já cobrou esse PPP em diversas ocasiões em que eu estive presente e está tudo registrado em ata. Isso leva a um questionamento: será que se vai conseguir uma mobilização como aquela? O acessível secretário de educação Orziro foi embora, a brilhante e experiente coordenadora Giovani também se foi para FASE de Gurupá, tanto era o seu talento. E a desmotivação da população quanto a esse tipo de planejamento, como fica?
Apesar da descrença nas intenções educacionais da SEMED e dos políticos que administram seus recursos, que vêem o setor de educação como um cabide de emprego, surge a possibilidade de ou fazer um novo PPP ou atualizar o antigo que foi engavetado e adicionar novas ações amparadas em novo diagnóstico, revendo situações como de abandono escolar por questões de gravidez e casamento em idade precoce. Uma das novas situações, que não foi contemplada no diagnóstico anterior pode ser tratada com mais ênfase: a da gravidez na adolescência e o casamento numa idade sem maturação psicológica nem tampouco estrutura financeira para arcar com as conseqüências de uma vida a dois. Dizer que não se tem tempo porque se está demais envolvido com conteúdo e algo preocupante, pois um profissional tem que estar atento quanto aos rumos que sua comunidade está tomando. Nesse sentido, há um planejamento anual que pode ser reformulado para atender a esse problema. Professor que não tem tempo para intervir no processo é professor medíocre, sem vínculo nem comprometimento com o público alvo.
Acredito que o antigo, o engavetadíssimo, que não foi adiante por rupturas – nesse caso, a troca de secretário de educação - tão comuns na política educacional brasileira, era voltado para o Pólo Acutipereira, um conjunto de escolas numa região só, com suas díspares características, problemas e situações. O importante é agir o quanto antes para que meninos e meninas não deixem a sala de aula e deixe de  brincar de adultos, onde crianças fazem crianças.

Nenhum comentário: