Nós, trabalhadoras e trabalhadores agroextrativistas do Marajó, que vivemos da floresta e dos rios desta região Marajó assim como viveram nossos antepassados, manifestamos nosso repúdio ao Projeto de Lei 107 que tramita na Assembleia Legislativa do Pará que pretende consagrar a pecuária como única atividade tradicional do Marajó, colocando o extrativismo e a agricultura familiar apenas como “complementares”. Nós marajoaras do campo, dos furos, das ilhas, da terra-firme entendemos ser absurdo tal projeto de lei, pois verdadeiramente quem tem sido há séculos os responsáveis pelo alimento e renda às famílias ribeiras foram o açaí, o peixe e a farinha, estas sim certamente tradicionais.
Num ataque ideológico ao extrativismo e o agroextrativismo que dialogam com a natureza, o PL 107 pretensamente deseja passar ao público em geral através de lei que o gado é mais importante que o fruto do açaí, que a semente da andiroba, que o tucunaré do rio, que a tapioca, que a tala que tece o paneiro, que a seringueira que corajosamente riscamos. O que se esconde por trás do PL 107 é a vontade do agronegócio aparentar ser do povo, o que não é. Não basta a concentração de terras, não basta a expulsão das famílias do campo, não basta a intimidação e não incomum a violência, não basta a grilagem de terras, os latifundiários precisam agora fazer a “grilagem nas mentes”, reforçado por companhas da grande mídia que “o Agro é Pop”. Porém, o que se tem visto é que agronegócio é veneno, o agronegócio é conflito, “o Agro é desmatamento”, “ o Agro é exclusão”.
O alimento na mesa dos paraenses, a renda gerada pelo extrativismo do açaí, pela pesca artesanal e pela agricultura familiar e o que nos junta enquanto amor de ser marajoara é tudo que vem da mata, dos rios e da terra cultivada. A pecuária tem destaque sim, contudo mais destaque possui os Bens Comuns da Criação que nos livraram da fome, que nos curaram e nos abrigaram da chuva em todos esses anos. Bens que garantiram a sustentabilidade da vivência dos marajoaras, ao mesmo tempo em que se mantiveram, segundo o INPE, 96% de nossas florestas em pé, contribuindo neste enfrentamento mundial contra as mudanças climáticas.
Nesta luta do dinheiro contra a memória (que não possui preço), nos posicionamos firmemente a favor de nossos pais, avós, bisavós, tataravós, que não morrerão em nossas lembranças assim como não morreremos na mente dos nossos filhos. Por isso, não aceitamos o teor do PL 107 e exigimos a consagração de nosso meio de vida nas leis do Estado Paraense!
Somos mulheres e homens agroextrativistas, somos floresta, somos terra, somos rios, somos aqueles que tem moral para apontar quais são as atividades realmente tradicionais no Marajó.
Coronéis e patrões no Marajó, nunca mais!
Portel (PA), 13 de julho de 2017.
EXECUTIVA DA FETAGRI-PA
CODETEM – MARAJÓ/PA
COORDENAÇÃO REGIONAL DAS ILHAS DO MARAJÓ
SINDICATOS DOS TRABALHADORES (AS) RURAIS DE AFUÁ – PA
SINDICATOS DOS TRABALHADORES (AS) RURAIS DE ANAJÁS – PA
SINDICATOS DOS TRABALHADORES (AS) RURAIS DE BREVES – PA
SINDICATOS DOS TRABALHADORES (AS) RURAIS DE CURRALINHO – PA
SINDICATOS DOS TRABALHADORES (AS) RURAIS DE CHAVES – PA
SINDICATOS DOS TRABALHADORES (AS) RURAIS DE MELGAÇO – PA
SINDICATOS DOS TRABALHADORES (AS) RURAIS DE PORTEL – PA
SINDICATOS DOS TRABALHADORES (AS) RURAIS DE PONTA DE PEDRAS – PA
SINDICATOS DOS TRABALHADORES (AS) RURAIS DE S. S. DA BOA VISTA – PA
SINDICATOS DOS TRABALHADORES (AS) RURAIS DE BAGRE – PA
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