Se existe uma coisa que amo fazer, é desenhar. Sou cartunista. Não ganho a vida com isso, mas me divirto um bocado... E quando as pessoas
descobrem minha habilidade, invariavelmente pedem:
- Desenha alguma coisa aí?
Nessa hora eu congelo! Fico olhando aquela folha branca e... Nada!
- Desenhar o quê, pô? Um porco? Um dinossauro? Um relógio? Um sapato?
- Ah, sei lá... uma vaca, vai.
E então eu desenho a vaca. E a pessoa fica satisfeita e vai embora com o desenho da vaca. Feliz como uma criança...
Se me pedem "qualquer coisa", demoro pra desenhar. Mas se dizem o que querem, é plaft-pluft!Mas o tal "branco" que me dá não é só desenhando, não. Quando entro naquelas gigantescas seções de CDs e DVDs das "megastores", por exemplo,
já sei o que vai acontecer. Esquecerei nomes de artistas, de álbuns, de músicas, de filmes e de diretores. Branco total! Se não fizer uma
lista antes, sou capaz de sair com nada nas mãos. Acredite: já aconteceu. São tantas as opções de escolha que eu escolho coisa nenhuma.
E a compra de café no supermercado, nos EUA? Tem café sem cafeína. Com menta. Com açúcar. Em grão redondo, grão oval e grão quadrado. Cru,
torrado e sublimado. É um sofrimento. E quando finalmente faço minha escolha, saio do mercado com a pulga atrás da orelha.
- Pô, tinha tanta opção... Será que fiz um bom negócio?
Dizem os especialistas que aquela máquina maravilhosa chamada cérebro, por absoluta falta de capacidade física, não consegue processar as
escolhas na velocidade das ofertas. Só conseguimos lidar com uma quantidade limitada de variáveis. Dê-me uma ou duas alternativas. Três ou
quatro. Talvez sete... Mais que isso, vira problema.Além disso, quanto mais oportunidades de escolha, mais expostos ficamos a uma coisa com a qual não lidamos bem: a liberdade.
Você já subiu em um prédio, chegou até a beirada e olhou para baixo? Qual é a sensação que você tem? Medo, não é? Pois é. E medo de quê? A
maioria das pessoas dirá:- De cair!
Engano seu... Aquele medo que aparece não é de cair. Você fica apavorado porque, naquele instante, vem à consciência uma verdade terrível:
se quiser pular, você pode! Não vai pular, mas se quiser, pode...É esse o medo que apavora: a certeza de que podemos fazer o que quisermos com nossa vida. Toda a responsabilidade do mundo cai em seu colo.
Você está diante de um risco, sozinho, dono de seu destino, livre para construir o futuro. Se falhar na escolha e os outros ficarem sabendo,
você poderá ser criticado, ridicularizado. Que horror! É isso que apavora. Paralisa...
E então você escolhe "ficar na sua", seguir o rebanho e não inventar moda.
A consciência da liberdade de escolha dá medo. Por isso precisamos de pessoas que orientem nossas escolhas, que nos dêem a sensação de
alívio daquela tal responsabilidade. Gente que nos dê segurança.Para vencer o medo da liberdade de escolher você precisa estudar, aprender, ilustrar-se.
Nada disso garante que você se transformará num líder. Mas ajuda a escolher que líder seguir.
Luciano Pires
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