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terça-feira, 8 de outubro de 2019

A sonsa

Nas muitas conversas com gente simples e sem escolaridade surgem ideias impensáveis no mundo acadêmico e afastadamente dos ideais beatos. Ainda que haja, sabidamente, incoerência no falar e no fazer. Esse é um resumo do que ouvi.

Dizia o meu entediado interlocutor que ninguém nasce Paysandu e muito menos Remo. Meu confidente disse ainda que ele nem sabe porque é Paysandu ou Flamengo, pois essas coisas são os adultos que ensinam. Nesse ponto eu tive que concordar que é assim mesmo. Se o pai não ensina, o meio vai ensinar. Mas a contenda prosseguiu, como no parágrafo seguinte.

Dizia o velho homem que assim acontece também com todos nós. Nascemos sem saber se somos homens ou mulheres. Desde cedo, o pai afirma e reafirma ao seu filho: "boneca é coisa de mulher. homem tem que brincar com bola", "homem não chora". Dizia o velhinho que é desse jeito que se passa do mais velho para o mais novo. Sem quer afrontá-lo, disse apenas que os tempos mudaram.

"Não vê como tem tanto viado como nunca??? Isso tudo é porque agora deixam os meninos decidirem o que querem ser", afirmou, com uma voz mais alta, como se eu estivesse contestando sua fala. Aí ele prosseguiu, relatando a história da sonsa. 

Segundo ele, uma mãe era super protetora, crente na possibilidade de prevenir a filha de um tal "abuso". Deixava, segundo ele, a mocinha apenas ir à casa de uma amiga. Tal não foi a surpresa, disse, quando a mãe descobriu que sua filhinha estava se relacionando com a amiga. Era a sonsa. "Deixou de ensinar", disse o homem, entornando o copo e fazendo um som gutural e completando: "o tal do hormônio tá batendo na porta e a vazão precisa ser satisfeita e não há como e resta o que está por perto".

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