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terça-feira, 17 de agosto de 2010

Pobrezinha

Lembro muito bem do dia em que entrei para a escola Paulino de Brito nos anos 70. Era um menino tímido, mas muito observador e dono de uma memória invejável. Assim, logo percebi situações de desigualdade social e guardo cenas na minha memória até hoje. Havia uma sala exclusiva para os meninos e meninas considerados filhos da elite portelense. Na minha turma não havia isso, aliás, éramos, em sua grande maioria, pobres. Lembro bem do menino chamado Lélio que se sentia oprimido pelos demais e procurava apoio em mim. Mas no meio de situações de opressão e pura exclusão encontrei, assim como o Lélio achou em mim, pessoas que me apoiavam, como foi o caso da professora Wilma Carvalho. Essa educadora foi muito marcante em minha vida e foi ela quem achou que eu deveria estar numa série mais avançada, uma terceira ou quarta séries. Ela procurou inclusive a minha mãe, sra. Nazaré de Deus Machado, para conversar sobre essa possibilidade. Esta, por sua vez, tentou convencer-me, mas o esforço da professora foi em vão por causa de um único motivo: eu não queria de jeito nenhum abandonar meus colegas, dentre os quais havia até vizinhos, gente com quem eu desenvolvera um laço de amizade quase fraternal.

Um dia entrei em conflito com uma secretária escolar justamente por enxergar o que os outros talvez enxergassem mas não tinham coragem de desafiar. Lembro que ela me disse que eu deveria era me mudar pra um outro país, como os Estados Unidos. Pobrezinha, pensava ela que injustiças dessa natureza não existem no país do Tio Sam.
As desigualdades e o preconceito me incomodavam. Havia um paparico acentuado em relação aos filhos de pessoas ocupantes de cargos públicos ou da empresa que gerou empregos por décadas (AMACOL). Às vezes, os oprimidos mesmos são os responsáveis pela continuidade da opressão. Considere o seguinte fato. Na segunda série, já no Abel Figueiredo, havia uma turma visivelmente faminta – cheguei a pensar certa época que muitos iam à escola para comer! – e uma mocinha linda, que eu não sei por onda anda hoje, resolveu colher umas deliciosas mangas das centenas que tinha no seu quintal e trouxe para a filha do prefeito da época. A garota rica então abriu a sacola, cheirou as frutas, guardou três para comer em casa e quase deu as restantes para os colegas de classe, porém foi impedida pela menina pobre. Pensei com meus botões: “tanto menino morto de fome e ela dá comida para a filha do prefeito, que é também um empresário forte na cidade!”.

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