Nesta semana aconteceu mais um suicídio
em Portel, desta vez a vítima da opressão social foi um idoso, propondo
um desafio aos especialistas da mente humana que tentaram, em vão,
decifrar as origens de tal mal anteriormente só acometendo adolescentes,
seres em fase de maturação física e mental.
Não
fui um conhecedor profundo do idoso que tirou sua própria vida ao ver
que um câncer lhe levaria fatalmente ao túmulo lenta e gradualmente,
levando-o a sofrer dores, injustiças, preconceitos, num desenrolar de
enfados como se a vida toda não fosse o suficiente para maltratar esse
negro humilde, trabalhador e de bom coração. Na última vez que o vi,
estava num comércio a pedir a ajuda para uma viagem a Belém. Não sei se
conseguiu seu intento, mas ouvi, juntamente com meu amigo Sirhan, as
palavras do comerciante: "Já tentou pedir ao prefeito?", ao que logo sai
do local, pois aquilo me doeu muito na alma, pois não foi a primeira
vez que vi um portador de câncer a pedir esmolas, com uma baita duma
ferida do pescoço e uma voz rouca e trêmula.
Antes
dessa última visão desse homem em vida, eu o tinha observado num de
seus últimos ofícios que era o de catador de latinhas de alumínio, bem
cedo, cerca de seis horas da manhã, próximo à agência bancária onde me
enfileiro junto com outros professores para pegar o ralado dinheiro da
educação. Bem antes, ainda na infância, ouvia falar de um homem bem
dotado, o mais famoso de todos na cidade. Diziam que numa determinada
viagem ao interior da cidade, em época de campanha política, esta
personagem trabalhava numa embarcação e resolveu retirar das calças seu
enorme membro para fazer xixi e, segunda a testemunha, aquilo devia ter a
grossura de uma lata de leitte condensado. Esta era a primeira
informação de que tinha sobre este homem, embora para muitos fosse o
Pelé da Caiçara, por ter, possivelmente, trabalhado na empresa de
beneficiamento de palmito, num tempo em que a palavra preservação nem
era conhecida por essas bandas, nem tampouco o termo manejo.
Embora
a maioria dos portelenses não lembre, já houve, no bairro do Pinho, uma
morte semelhante. Um idoso foi acometido de câncer na próstata e,
durante seu sofrimento, resolveu por fim aos amargos dias que ainda lhe
restavam. A semelhança se restringe à idade avançada e a certeira morte
diante do avanço da doença, uma certeza de que não sobrevirá um cura
para um mal tão antigo quanto a raça humana. Ao fazer tal comparativo,
oportuno lembrar que os jovens que se mataram não tinham vivido nem um
terço do que estes homens viveram. Uns por frustração no amor (talvez
até confundido amor com tesão), tal como traição entre casais, mas que
neste texto não cabe adentrar em tal abordagem, nem tampouco desafiar o
conhecimento científico dos especialistas.
Aliás,
ao acompanhar o dia a dia da minha cidade, vejo desassitidos muitos
velhos que não fazem exames periodicamente e a razão disso é a exclusão
social, os erros que apontam uma simples verminose quando o indivíduo
está é com um tumor, a cultura da farmácia, o abandono dos idosos mesmo
com uma lei de criação do conselho dos idosos, o sentimento de ser
descartável numa sociedade que avança sem rumo e sem norte. Se bem
pensado, nem os jovens mais respeitam esses velhos que construíram esta
cidade com sua energia que agora está fraca ou mesmo sem a intelectualidade
que torna alguns soberbos e insensíveis, tendo na passageira beleza
física uma afronta ao futuro que nos aguarda: envelhecer e ficar doente e
fiel visitador das farmácias e, se tiver um pouco de sorte, ausente das
filas do SUS, pois sem dinheiro fica a mendigar ajudas no fim da
picada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário