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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Mais um suicídio em Portel: o triste fim de Pelé da Caiçara

Nesta semana aconteceu mais um suicídio em Portel, desta vez a vítima da opressão social foi um idoso, propondo um desafio aos especialistas da mente humana que tentaram, em vão, decifrar as origens de tal mal anteriormente só acometendo adolescentes, seres em fase de maturação física e mental.

Não fui um conhecedor profundo do idoso que tirou sua própria vida ao ver que um câncer lhe levaria fatalmente ao túmulo lenta e gradualmente, levando-o a sofrer dores, injustiças, preconceitos, num desenrolar de enfados como se a vida toda não fosse o suficiente para maltratar esse negro humilde, trabalhador e de bom coração. Na última vez que o vi, estava num comércio a pedir a ajuda para uma viagem a Belém. Não sei se conseguiu seu intento, mas ouvi, juntamente com meu amigo Sirhan, as palavras do comerciante: "Já tentou pedir ao prefeito?", ao que logo sai do local, pois aquilo me doeu muito na alma, pois não foi a primeira vez que vi um portador de câncer a pedir esmolas, com uma baita duma ferida do pescoço e uma voz rouca e trêmula.

Antes dessa última visão desse homem em vida, eu o tinha observado num de seus últimos ofícios que era o de catador de latinhas de alumínio, bem cedo, cerca de seis horas da manhã, próximo à agência bancária onde me enfileiro junto com outros professores para pegar o ralado dinheiro da educação. Bem antes, ainda na infância, ouvia falar de um homem bem dotado, o mais famoso de todos na cidade. Diziam que numa determinada viagem ao interior da cidade, em época de campanha política, esta personagem trabalhava numa embarcação e resolveu retirar das calças seu enorme membro para fazer xixi e, segunda a testemunha, aquilo devia ter a grossura de uma lata de leitte condensado. Esta era a primeira informação de que tinha sobre este homem, embora para muitos fosse o Pelé da Caiçara, por ter, possivelmente, trabalhado na empresa de beneficiamento de palmito, num tempo em que a palavra preservação nem era conhecida por essas bandas, nem tampouco o termo manejo. 

Embora a maioria dos portelenses não lembre, já houve, no bairro do Pinho, uma morte semelhante. Um idoso foi acometido de câncer na próstata e, durante seu sofrimento, resolveu por fim aos amargos dias que ainda lhe restavam. A semelhança se restringe à idade avançada e a certeira morte diante do avanço da doença, uma certeza de que não sobrevirá um cura para um mal tão antigo quanto a raça humana. Ao fazer tal comparativo, oportuno lembrar que os jovens que se mataram não tinham vivido nem um terço do que estes homens viveram. Uns por frustração no amor (talvez até confundido amor com tesão), tal como traição entre casais, mas que neste texto não cabe adentrar em tal abordagem, nem tampouco desafiar o conhecimento científico dos especialistas.

Aliás, ao acompanhar o dia a dia da minha cidade, vejo desassitidos muitos velhos que não fazem exames periodicamente e a razão disso é a exclusão social, os erros que apontam uma simples verminose quando o indivíduo está é com um tumor, a cultura da farmácia, o abandono dos idosos mesmo com uma lei de criação do conselho dos idosos, o sentimento de ser descartável numa sociedade que avança sem rumo e sem norte. Se bem pensado, nem os jovens mais respeitam esses velhos que construíram esta cidade com sua energia que agora está fraca ou mesmo sem a intelectualidade que torna alguns soberbos e insensíveis, tendo na passageira beleza física uma afronta ao futuro que nos aguarda: envelhecer e ficar doente e fiel visitador das farmácias e, se tiver um pouco de sorte, ausente das filas do SUS, pois sem dinheiro fica a mendigar ajudas no fim da picada.

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