Olá, depois de algum tempo não pude interagir com nossos
leitores. O motivo se deu por circunstâncias profissionais. Mas aqui estou eu e
dessa vez, atendendo aos pedidos de alguns amigos de nossa querida terrinha
arucará, entre os tais, a professora Francisca Sanches e o Miro Pereira.
Nesse
singelo artigo abordaremos o tema “vingança” - mas sem a intenção de esgotá-lo
– já que essa tem sido uma prática do bicho-homem na controversa aventura
humana chamada vida. Pois, bem, existe na linguagem popular uma expressão
bastante pitoresca, que revela “essa perversa prática” - que uma pessoa sente
em relação a quem lhe causou algum mal. A contrariedade pode decorrer de
palavras, gestos ou ações ofensivas e agressivas, porque o atingido não reza na
cartilha do agressor.
Portanto, “A volta do besouro verde”, equivale à hora do
revide. Jesus Cristo sempre condenou o sentimento de desforra. Tanto é verdade,
que ecoa na mente de todos os cristãos suas palavras recomendando que um
atingido na face - ofereça o outro lado para também ser batido. Esse mandamento
é quase impossível de cumpri-lo, principalmente por nós, do gênero masculino,
pois, afinal de contas, “em cara de homem não se bate”. O próprio individuo
ofendido sempre fica no aguardo do troco.
Na esfera política, alguns
governantes e detentores de cargos eletivos costumam subtrair do povo aquilo
que lhes é necessário para sobreviver. Agem dessa forma quando os eleitores não
aceitam suas lideranças e denunciam seus deslizes. As ações perniciosas de
pérfidos políticos atrapalham o cidadão reto, mas também martirizam os autores
dos feitos. Muitas vidas foram ceifadas ao longo da história da humanidade
porque os poderosos vingaram-se das pessoas que contrariavam seus interesses.
O
tempo passou, mas a expressão “a volta do besouro verde” ainda permanece em
voga. Aí mesmo, na cidade de Portel, existem sentimentos de vingança em
profusão pairando no ar e enraizados na mente dos eleitores. E de onde vem tal
expressão? Os que vivem nas regiões onde ocorre a criação de gado se acostumaram
a ver um besouro esverdeado, conhecido como escaravelho, que usa o excremento
de mamíferos herbívoros para se alimentar e enterrar seus ovos. O trabalho de
recolher excrementos é sempre reservado as fêmeas. Elas separam pedaços do
esterco ainda frescos, rolam na terra até formar bolas, algumas maiores do que
a própria artífice. Em seguida, apoiando-se nas patas dianteiras, rolam as
bolas pra trás na direção de um buraco que é sua morada. Se a bola de fezes não
couber no orifício a fêmea do besouro trata de ampliar a entrada. Depois de
introduzir a bola na sua morada, a besoura-fêmea fura uma câmara na pelota e
ali põe seus ovos. A quentura do esterco em fermentação acelera a eclosão dos
ovos e o aparecimento das lavas. Tanto a mãe como os filhos se alimentas do
excremento do animal. O trabalho da fêmea do besouro é demorado. Em
determinados momentos ela alça vôo e desaparece, dando a impressão de que
desistiu da empreitada. Algum tempo depois, sempre “zunindo”, ela reaparece e
reinicia sua acrobacia. Alguém pode julgar que esse animal seja desprovido de
inteligência. Ledo engano, seu cérebro é do tamanho de um grão de arroz, mas
lhe assegura eficiência e maestria, no duro trabalho de rolar ou virar bosta.
O
político que se elegeu com o apoio de eleitores, que depois não cumpriu sua
promessa, sabe que, numa próxima eleição deve estar preparado para aguardar “a
volta do besouro verde”. Mas não é só na política que a expressão é usada.
Lembro de um fato pitoresco ocorrido com um amigo da época que servimos no
Exército em Belém - que se enamorou de uma garota bonita - mas que foi
rejeitado por ela com a frase: “vê se tu te enxergas”. Na ocasião, o meu amigo
lhe disse: “ta legal, mas eu vou esperar a volta do besouro verde (ou seja, um
dia tu me pagas!)”. Assediada por homens endinheirados, a moça acabou vivendo
com eles tórridos romances em freqüentes orgias, até adoecer e perder a bela
estampa que a tornara tão desejada. Refeita da doença já não possuía tantos
atrativos e acabou frequentando o “rendez-vous da vida”.
Certa noite, sem ter
conseguido freguês, ela viu o jovem – (já promovido a patente de Cabo) que
desprezara adentrar no local da Luz Vermelha. A fome a impeliu se aproximar
dele para pedir que pagasse algo para comer e por recompensa ofereceu-lhe seu
corpo. Foi atendida quanto ao desejo estomacal, mas recusada como parceira de
transa. E ainda ouviu o meu amigo dizer: “lembras que eu te disse que iria
esperar a volta do besouro verde?”. O troco foi dado.
(*) Portelense,
economista, pesquisador-chefe do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais do
Estado do Amapá e atual Secretário Municipal de Planejamento em Mazagão (AP).
E-mail: samlima17@yahoo.com.br – facebook: Samuel Barbosa. Texto publicado em
Santana-AP- Brasil - às 20h30min do dia 19 de setembro de 2013. Texto adaptado
parcialmente do compêndio de crônicas do Professor Nilson Montoril.
Nenhum comentário:
Postar um comentário