Belém, 23 de janeiro de 2013 – Reconhecido no final do ano
passado com o Prêmio Especial Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos,
entre as várias homenagens recebidas por seu trabalho nos últimos anos, o jornalista
paraense Lúcio Flávio Pinto, que edita há 25 anos o Jornal Pessoal, foi
novamente condenado pelo judiciário paraense. Desta vez, ele deverá pagar a
quantia de R$ 410 mil (ou 600 salários mínimos) ao empresário Romulo Maiorana
Júnior e à empresa Delta Publicidade S/A, de propriedade da família dele,
também detentora de um dos maiores grupos de comunicação da Região Norte e
Nordeste, as Organizações Romulo Maiorana.
A decisão da desembargadora Eliana Abufaiad, que negou o
recurso interposto pelo jornalista no primeiro semestre de 2012, data de 21 de
novembro de 2012, mas foi publicada apenas em 22 de janeiro com uma incorreção
e, por causa disso, republicada nesta quarta-feira, dia 23. O jornalista vai
recorrer da decisão, tentando levar o caso ao Superior Tribunal de Justiça
(STJ), mas teme que a condenação seja confirmada.
Romulo Maiorana Júnior alega ter sofrido danos morais e
materiais devido à publicação, em 2005, do artigo “O rei da quitanda”, no qual
o jornalista abordava a origem e a conduta do empresário à frente de sua
organização. Por causa desse texto, em 12 de janeiro do mesmo ano, Lúcio Flávio
foi agredido fisicamente pelo irmão do empresário, Ronaldo Maiorana, junto com
dois seguranças deste em um restaurante de Belém.
Depois da agressão, o jornalista também se tornou alvo de 15
processos judiciais, penais e cíveis, movidos pelos irmãos. Chegou a ser
condenado em 2010 a pagar uma quantia de R$ 30 mil, mas recorreu da decisão do
juiz Francisco das Chagas. A recente decisão da desembargadora Eliana Abufaiad,
se confirmada, significará um duro golpe às atividades desempenhadas por ele,
que não dispõe de recursos financeiros para arcar com as indenizações.
Lúcio Flávio Pinto, que já perdeu todas as vezes em que
recorreu às condenações judiciais e vê nesses processos uma clara tentativa de
impedimento à realização do seu trabalho junto à imprensa, lamenta o fato de
juízes e o próprio Tribunal de Justiça do Pará não terem avaliado o mérito dos
recursos por ele apresentados.
“Os tribunais se transformaram em instâncias finais. Não
examinam nada, não existe mais o devido processo legal. E isso não acontece só
comigo. São milhares de pessoas em todo o Brasil, todos os dias, que não têm
direito ao devido processo legal. Em 95% dos casos julgados no país rejeitam-se
os recursos. Não tem jeito”, afirma. Ele também informa que há outra ação
judicial em curso, ainda a ser julgada, na qual Romulo Júnior pede R$ 360 mil
de indenização também por danos morais e materiais.
Perseguição judicial – Lúcio ficou ainda mais conhecido no
início de 2012 quando foi alvo de uma condenação que mobilizou pessoas e
organizações, nacionais e estrangeiras, que o obrigaria a indenizar a família
do falecido empresário Cecílio do Rego Almeida. O crime teria sido chamar de “pirata
fundiário” o homem que tentou fraudar e se apropriar ilegalmente de quase 5
milhões de hectares de terras públicas, na região paraense do Xingu, denúncia
posteriormente comprovada pelo próprio Estado.
Por fazer uma radiografia minuciosa e crítica da região, o
que o tornou um dos maiores especialistas em temas amazônicos, e reportar
tentativas de fraudes aos cofres públicos, erros e desmandos do poder
judiciário local, o jornalista foi alvo de exatos 33 processos desde 1992.
Já sofreu agressões físicas e verbais por causa de seus
artigos, sem declinar o direito de veicular informações de interesse público,
em seu jornal quinzenal reconhecido pela qualidade do conteúdo em detrimento de
uma produção quase artesanal.
Fonte: somostodoslucioflaviopinto.wordpress.com
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