Os graves e conhecidos problemas sociais enfrentados pela
população do Marajó e a ausência do poder público naquela região voltaram a ser
questionados pela prelazia do arquipélago. Na semana passada, o bispo Dom José
Luiz Azcona, divulgou uma carta elaborada pela entidade, na qual denuncia a
ausência do Ministério Público do Estado (MPE) na ilha.
Segundo Azcona, a quase totalidade dos municípios marajoaras
padece pela falta de promotores de justiça nas comarcas, deixando a população
ainda mais abandonada. “Os prejuízos materiais e, sobremaneira, os traumas
pessoais a que é submetida a população em decorrência da ausência do órgão
ministerial são de um alcance quase que inatingível. Nossas crianças continuam
a ser estupradas, prostituídas, traficadas e recrutadas ao mundo do crime e das
drogas. Mulheres continuam a ser agredidas. Gestores municipais continuam a cometer
atos de improbidade administrativa”.
Segundo a denúncia, os promotores titulares das comarcas
dificilmente moram no município e os substitutos, que apenas respondem pelas
comarcas designadas, também raramente dão assistência institucional aos que precisam.
E o que é pior, segundo Dom Azcona, é que a falta de promotores não é um
problema isolado. Há também ausência de defensores públicos, delegados e
juízes, sendo que estes raramente são vistos nas cidades.
A situação de caos foi relatada pessoalmente pelo bispo em
recente conversa com o procurador geral de Justiça do Estado do Pará, Marco
Antônio Ferreira das Neves, juntamente com a Comissão de Justiça e Paz da CNBB.
O próprio procurador teria reconhecido as dificuldades estruturais do
Ministério Público, afirmando que faltam recursos e que a instituição iria
promover concurso público para o ingresso de novos promotores de justiça para
preenchimento do quadro deficitário.
A prelazia contesta os argumentos, afirmando que falta
esforço e boa vontade para que o MPE esteja mais próximo aos seus tutelados.
Segundo Dom Azcona, o procurador geral de Justiça tentou tranquilizar a
prelazia ao afirmar que todas as comarcas do interior possuem promotores que
estão designados para responder por elas.
“Estar designado para responder por uma comarca é uma
situação. Efetivamente responder, trabalhar e defender a dignidade das pessoas
é algo totalmente diferente”, diz. “Há comarcas em que promotores designados
para responder simplesmente nunca se fizeram presentes para efetivamente
oferecer a prestação ministerial”, afirma.
O bispo da prelazia do Marajó finaliza a carta lembrando que
a falta de promotores de justiça acarreta ainda ilegalidades quanto à aplicação
correta dos recursos públicos, inadequação de vias eleitas para compra e
distribuição da merenda escolar, além do não julgamento de litígios eleitorais
ainda pendentes.
“Almas ainda são destruídas, roubadas, estupradas, obrigadas
a se prostituir, traficadas e até mortas, pela completa ausência dos poderes
constituídos. O tempo não urge, não urgiu”, finaliza. A reportagem entrou em
contato com o MPE, que encaminhou o caso à Procuradoria Geral de Justiça, mas
até o fechamento da edição não obteve retorno da instituição.
Fonte: Diário do Pará
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