Denúncias feitas à ADUFPA apontam que docentes estariam
sendo contratados na categoria de professores eventuais para atuarem no Plano
Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor). Ao contrário
dos docentes que atuam no programa como colaboradores, os professores eventuais
estariam ganhando apenas os valores das diárias para ministrar as disciplinas,
não recebendo as bolsas a que têm direito.
De acordo com a denúncia, as possíveis contratações
irregulares estariam sendo feitas nos cursos de Matemática em Abaetetuba e Letras
em Breves. Como o fato precisa ser melhor averiguado, a diretoria da ADUFPA
repassou a denúncia ao reitor Carlos Maneschy durante reunião no último dia 18
de agosto, e solicitou que fossem tomadas providências cabíveis para apurar as
denúncias.
A possível contratação de professores eventuais expõe as
condições de trabalho precárias a que estão submetidos os docentes que atuam no
Parfor. Além de terem que abrir mão de seu período de férias para complementar
a renda em virtude da defasagem salarial, muitas vezes, os professores têm que
trabalhar em escolas com pouca infraestrutura.
É o caso do município de Bujarú, no nordeste paraense. Sem
campus da UFPA na cidade, as aulas do Parfor ocorrem na Escola Municipal Dom
Ângelo Frozi, onde as salas não são climatizadas, não há acervo bibliográfico e
os banheiros sequer tem pia para as pessoas lavarem as mãos.
No município de Porto de Moz, a situação chegou a ser pior
neste último módulo. Por dificuldades de espaço nas escolas públicas, algumas
disciplinas tiveram que mudar de local no período de sua realização. “Durante
uma semana, tivemos que ficar mudando de lugar por falta de espaço. Iniciamos a
disciplina na Casa de Cultura de Porto de Moz, fomos transferidos para salas da
Assembleia de Deus, onde o banheiro estava em construção, e depois, retornamos
para a Casa de Cultura”, revela a professora Conceição Saraiva, que ministrou
disciplinas do curso de Pedagogia.
Professores relatam dificuldades de instalação nos
municípios
Outra dificuldade apontada pelos docentes é o custo de vida
em alguns municípios, onde a diária paga pela Universidade mal dá para custear
a hospedagem. “As condições de instalações dos professores em algumas cidades é
difícil. Em Altamira, por exemplo, por conta das obras de Belo Monte, o custo
de vida é muito elevado. Tive que pagar R$ 120 para me hospedar em um hotel
onde os quartos só tinham praticamente a cama. Se for computar os gastos com
alimentação e transporte, praticamente paguei para trabalhar. Isso sem contar
os problemas para acessar a internet, pois a rede de dados era muito restrita”,
conta o docente Ivan Neves, que ministrou disciplinas do curso de Física.
Para o professor Reginaldo Wanghon, que também atuou no
curso de Física na cidade de Altamira, as prefeituras municipais deveriam
entrar com contrapartidas, para garantir uma estrutura mais adequada ao
trabalho dos docentes.
Segundo o docente, o programa é importante, mas é preciso se
preocupar não apenas com a quantidade, mas também com a qualidade das condições
de trabalho ofertadas. “O Parfor é um programa de governo, mas parece não fazer
parte de nenhum planejamento. Apesar da formação boa e da gratidão dos alunos,
teríamos que ter toda uma infraestrutura e logística. Mas isso parece ser
difícil”, avalia o professor.
Desde que o Programa foi criado, a diretoria da ADUFPA tem
cobrado melhores condições de trabalho para os professores. “Não somos contra o
Parfor. Achamos válido e importante que os professores da educação básica sejam
qualificados, mas é fundamental que tenhamos condições de trabalho e de ensino
com qualidade. Por isso, as irregularidades precisam ser denunciadas para que
possamos avançar na valorização do trabalho docente e na melhoria da qualidade
dos cursos ofertados”, garante a diretora-geral da ADUFPA, Vera Jacob.
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