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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

O homem que carregava dinheiro dos cofres públicos de Portel

Eu estava numa ocasião social quando entrou uma dessas figuras que acompanham o poder público, numa pompa de gente de novela, embora se constatasse a ausência de gestos mais nobres como cumprimentar as pessoas presentes.

Noutro dia, já na companhia de um cidadão que já viu pessoas comuns chegarem ao poder e, da mesma forma como chegaram, se foram. Lembramos de vários casos desse tipinho que acha que tudo é eterno, que andam por aí como se houvesse um deus na barriga. A história contada hoje se deu há mais de vinte anos e o homem que um dia se achava poderoso anda pelas ruas de Portel esquecido, pra não dizer abandonado, a pé ou de bicicleta.

O gestor do município fugia, sim fugia, esse é o termo, de Portel diante de uma onda de saque aos cofres públicos. Já estava no avião quando foi abordada por seu fiel apaniguado (noutras palavras, para quem não sabe, é o famoso puxa-saco, que nesse caso pode-se dizer que era um baba-útero, como diz a minha querida professora Vilma).  Segurou a porta do avião e disse:

- Como é que eu fico?

Então, a figura política respondeu:

- Te vira, que tu não és jabuti.

Triste, o cidadão, de coração apertado, insistiu e ouviu um consolo final:

- Fica com o carro prateado pra ti e usa-o para fazer serviços de taxista.

O cidadão, que ora tinha sido uma figura assombrosa de poderes igualmente assombrosos, deixou o lugar e, triste, parou num bar pertencente a um amigo meu e desabafou. Contou que em certa ocasião foi a Belém pegar uma sacola cheia de dinheiro, algo como 370 mil reais. Como era de confiança, foi escalado para ir até o escritório de uma empresa que havia ganhado a licitação numa área que não recordo agora. Pegou a sacola e retornou de avião. No aeroporto do Juarez, foi recebido por uma figura que era tido como amedrontadora por andar sempre armado, além de ter um arsenal dentro de sua casa e importar alguns pistoleiros. 

Desenho: Chris Duran
De moto, a figura retornou da estrada Portel-Tucuruí, um dos acessos ao aeroporto é por essa estrada. A velocidade era grande demais e o homem da nossa história já pedia pelo amor de Deus para que a diminuísse, temendo se esborrachar no chão arenoso ou derrapar nas curvas perigosas que já tragou tantas vidas. Ao chegar no local, a casa da figura que gestava o município, entraram e começaram a repartir o dinheiro, entre os quais o tesoureiro. O apaniguado não estava na lista dos beneficiados com o dinheiro escuso. 

Como o anti-herói da nossa história conhecia bem o nordeste, pensou, ainda no bar, que deveria ter sumido com as notas para terras que nenhum paraense poderia descobrir. Mas era tarde demais, os que um dia triunfaram perante os cofres públicos haviam sumido de Portel com malas e malas de dinheiro e eis que mais um puxa-saco ficou na pobreza, mal visto pela sociedade como um dos ladrões. E olha que não foram poucos os que por aqui pensavam ser reis e agonizam na pindaíba.

Moral da história: não trate mal as pessoas enquanto estiver no topo da escada, pois um dia terá que enfrentá-los quando descer.

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