Portel já perde oportunidades imensas pela falta de meios de
transportes diferentes do tradicional rio que, desde a sua fundação em 1758,
insiste em se desenvolver na contramão dos manuais do progresso. Uma vez ouvi
da boca da Gracinha Machado, ex-diretora do hospital público Wilson da Motta
Silveira, que um médico de grande renome abandonou a ideia de trabalhar em
Portel porque a viagem era feita por navio de Belém até Portel.
Para mudar essa realidade, a Secretaria de Aviação Civil
(SAC) investirá R$ 2 bilhões na construção ou reforma de 80 aeroportos
regionais em oito estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima,
Tocantins e Mato Grosso.
A medida integra o Programa de Desenvolvimento da Aviação
Regional, apontado como prioridade do governo federal para o setor.
Os 80 aeroportos que receberão os investimentos foram
escolhidos estrategicamente.
A dificuldade de acesso ao local foi decisiva para isso. O
programa pretende deixar 96% da população a pelo menos 100 km de um terminal.
As primeiras licitações devem ser lançadas a partir de julho
deste ano. Do total, nove serão construídos do zero. São eles: Codajás (AM),
Jutaí (AM), Maraã (AM), Uarini (AM), Cametá (PA), Ilha de Marajó (PA), Bonfim
(RR), Rorainópolis (RR) e Mateiros (TO).
Esses aeroportos levam, em média, até 30 meses para ficarem
prontos, a partir da apresentação do projeto. Para a reforma, a estimativa é de
8 a 18 meses.
Para o ministro, o enfoque na região amazônica permitirá não
só a interiorização do transporte aéreo, como também do desenvolvimento
econômico da área.
“Vamos integrar o Brasil para que todos os brasileiros
tenham acesso a um transporte que um dia atendeu apenas uma parcela da
população e hoje é quase popular”, comemora Padilha.
Por esse ângulo, a região demanda essa necessidade de
democratização do transporte aéreo. Em grande parte dos estados do Norte,
driblar os desafios para se deslocar faz parte da rotina da população.
A cheia do rio, a estiagem ou os constantes alagamentos de
estradas podem custar a vida de uma pessoa ou causar enormes prejuízos aos
ribeirinhos que fazem de pequenos comércios seu ganha pão.
É o caso do professor Dalcides Santana, de 45 anos. Ele
sofre de problemas cardíacos e precisa se deslocar duas vezes por mês para
fazer o tratamento em Belém.
Como mora em Portel, na Ilha de Marajó (PA), onde o acesso
por estrada é precário, ele perde muitas horas para chegar à capital paraense.
Desse modo, ele tem duas opções: um barco, que demora 17 horas de viagem e custa
entre R$ 90 e R$ 130 o trecho; ou ir de lancha, um serviço recente na região,
que demora 7 horas e não fica por menos de R$ 140.
“Como eu, todo mundo aqui depende do rio para se locomover.
Para chegar à capital eu precisei contar com a ajuda de outras pessoas. O
serviço ainda é caro e a viagem é muito cansativa”, contou.
Diante desse cenário, o capitão-de-mar-e-guerra da Marinha,
Eduardo Santana, explica que somente na Amazônia Ocidental, composta por Acre,
Amazonas, Rondônia e Roraima, há 40 mil quilômetros de rios navegáveis.
“Aqui, os rios são as nossas estradas. No período da seca,
mercadorias que são transportadas normalmente em uma embarcação, tem que ser
divididas em duas. Isso aumenta o frete para o empresário. Em contrapartida, um
barquinho pequeno não consegue nadar contra a correnteza em tempos de cheia”,
explicou.
Fonte: Portal Brasil, com adaptações por Ronaldo de Deus
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