Grandes
empresas exportadoras de madeira atuando no Pará são suspeitas de
usar créditos florestais para “esquentar” madeira ilegal
Ministério Público Federal no Pará
Assessoria de Comunicação
Foi
deflagrada hoje (4) uma operação do Ministério Público Federal,
Polícia Federal, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Justiça
Federal que investiga um esquema de desmatamento ilegal e fraude em
sistemas florestais no qual estão envolvidas algumas das maiores
empresas exportadoras de madeira do Pará. A operação envolve
buscas e apreensões em 41 endereços ligados a cinco empresas no
Pará, São Paulo e Curitiba. Duas pessoas tiveram prisões
preventivas decretadas, outras 16 ficarão em prisão temporária e
10 serão conduzidas coercitivamente para prestar esclarecimentos.
Também houve busca e apreensão na sede do Instituto de Terras do
Pará (Iterpa), porque há suspeita da participação de uma
servidora nas fraudes.
A
operação faz parte de uma investigação sobre esquema que faz a
chamada lavagem de madeira. Análises de dados dos sistemas
florestais e escutas telefônicas forneceram provas importantes para
os investigadores. Nesse tipo de esquema, a madeira retirada em
desmatamentos ilegais na Amazônia entra nos sistemas de controle da
comercialização de produtos florestais por meio de fraude em planos
de manejo aprovados pelo poder público, geralmente em nome de
laranjas. Comprada por grandes empresas exportadoras, a madeira
derrubada ilegalmente é vendida com aparência de legalidade para
compradores no exterior.
Cada
plano de manejo aprovado pode comercializar quantidades determinadas
de madeira, os chamados créditos florestais. Nos planos usados para
esquentar madeira ilegal, os créditos são usados apenas para
justificar a compra e a venda de madeira ilegal. No caso da operação
Tabebuia (referência ao nome científico do ipê, tabebuia
serratifolia)
o esquema começou a ser desvendado quando o Ibama identificou uma
grande concentração de ipê e maçaranduba, duas madeiras nobres,
em quantidade acima de 50% em um plano de manejo aprovado. A
concentração contraria os dados científicos sobre a dispersão
dessas espécies na floresta amazônica.
A partir dessa discrepância, descobriu-se que 81% da madeira
retirada do plano de manejo fraudulento tinha sido destinada à Jari
Florestal S.A, uma das maiores empresas exportadoras de madeira do
país. No total, a Jari, segundo os registros no sistema de controle,
teria recebido dois carregamentos de madeira somando quase 9 mil
metros cúbicos de um plano de manejo localizado há mais de 500 km
de distância da sede da empresa. Para se ter uma ideia, essa
quantidade de madeira teria que ser transportada por uma frota de
mais de 220 caminhões.
Apesar do volume e da distância, a investigação mostrou que cada
carregamento demorou, entre a entrada no sistema de controle e o
registro da chegada, apenas dois dias para alcançar o destino. Como
não há estrada entre Juruti, onde fica o plano de manejo
fraudulento, e Almeirim, sede da Jari Florestal, a madeira teria que
ter percorrido a distância em caminhões e depois balsas, o que
seria impossível em dois dias. Com o avanço das investigações, a
Polícia Federal descobriu que o mesmo tipo de operação com
evidência de fraude ocorreu envolvendo a Jari e outros planos de
manejo.
Só
de um dos planos de manejo, foram movimentados mais de R$ 28 milhões
em madeira ilegal entre dezembro de 2014 e fevereiro de 2015, devido
ao alto valor comercial do ipê: um metro cúbico de madeira serrada
pode alcançar o preço de R$ 3 mil dólares no mercado
internacional. O ipê é considerado uma das madeiras mais
resistentes, usada em deques e revestimentos para áreas externas e
ate parques públicos em grandes cidades dos Estados Unidos.
A Jari Florestal também comprou créditos para
comercializar ipê de outras sete empresas próximas da capital
paraense, Belém. Em várias dessas compras, o sistema registrou
tempos curtos demais para a chegada da madeira, sendo que distância
entre Belém e Almeirim é de mais de 800 km. Em uma das
movimentações, a madeira enviada pela Pampa Exportações (outra
empresa investigada) atravessou o Pará em apenas 10 minutos.
Ao examinar os dados das transferências de madeira feitas para a
Jari Celulose, a PF encontrou a localização, através do IP
(Internet Protocol) dos computadores de onde foram feitos os
registros nos sistemas florestais, todos com a senha do suposto dono
do plano de manejo, Jovino Vilhena. As transações milionárias de
madeira entre Almeirim e Juruti na verdade tinham sido feitas de um
computador em uma empresa de informática na periferia de Belém.
Vilhena
foi um dos
alvos da operação
hoje. Ele atua como despachante para várias empresas madeireiras e,
segundo a investigação, não tem recursos financeiros para ser
proprietário de terras e titular de um plano de manejo. Os mesmos
IPs foram utilizados em várias outras operações suspeitas
envolvendo as cinco empresas investigadas na operação Tabebuia:
Jari Florestal, Pampa Exportações, KM Comércio e Exportação de
Madeiras, Legno Trade Comércio, Importação e Exportação de
Madeira e Irmãos Alvarenga Indústria e Comércio de Madeira. Todas
são alvo de buscas e apreensões.
Ministério Público Federal no Pará
Assessoria de Comunicação
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