Aos cidadãos portelenses. Leiam, é importante!!
Por Marcia Sousa e Jacira Baia
No último dia 10, a equipe de orientadores de estudos do PNAIC foi convidada a participar de uma reunião, na Escola Abel Figueiredo, com o coordenador local Nelson da Glória, o qual falou com pesar que teriam que deixar o programa dois orientadores de estudos, visto que, de acordo com o censo escolar de 2013, o número de professores alfabetizadores teria diminuído no município, resultando na redução de duas turmas. No intuito de agir democraticamente, houve um consenso entre coordenador e orientadores, de que seria realizado um sorteio para decidir quais os dois orientadores a saírem. E assim foi feito.
Entretanto, no dia seguinte, fomos comunicadas pelo Coordenador Municipal que a Secretária de Educação, senhora Ana Valéria Ferreira, não havia acatado a decisão “democrática” tomada pela equipe e decidiu que os nomes que ficariam de fora do programa seriam o de Jacira da Costa Baia e Marcia Sousa, sendo que nenhum dos dois nomes havia sido sorteado para sair. O motivo de tal decisão seria a falta de disponibilidade das duas orientadoras, uma vez que trabalham com uma carga horária de 200h mensais.
O intrigante é que, dos treze que permaneceram no programa, onze também trabalham com 200h, como técnico pedagógico, cuja função, assim como a do professor, precisa de tempo para se dedicar às suas atividades, que não são poucas. Dizer que técnico pedagógico tem mais tempo que professor é dizer que esse profissional não tem muito o que fazer nas escolas, o que não é verdade.
O motivo de nossa manifestação nesses escritos, caros colegas e amigos, não é pela permanência deste ou daquele colega, pois acreditamos na competência e responsabilidade de cada um, nem tampouco intriga pessoal. Mas é porque somos convictas de que os motivos que levaram à nossa saída do PNAIC foram outros. Dentre eles: nossa liberdade de pensamento, nossa criticidade, nossas escolhas nas manifestações políticas partidárias, nossa ousadia de cobrar o que é nosso por direito.
Trazemos estas palavras até vocês, por que nossos anseios já não permitem mais o nosso silêncio. Queremos buscar a liberdade mesmo que esta busca retorne a nós, em alguns momentos da vida, com repressão e perseguição, pois no fundo nos apegamos às esperanças de que é possível a construção de um mundo justo, se nos dermos às mãos e lutarmos em favor dos nossos próprios ideais, que acreditamos serem os mesmos de todo cidadão, se deixarmos de ver a opressão como algo natural.
Queremos ter o direito de viver a liberdade e não ser punidas e nem ver a tristezas nos olhos de nossos familiares ao serem maltratados e perseguidos por causa de ações e escolhas que são unicamente de nossas responsabilidades. Já não aguentamos ver o medo no olhar de nossos filhos, irmãos e outras pessoas chegadas a nós, ao imaginarem a perda de seu pão de cada dia a cada palavra que proferimos, não contra este ou aquele, mas em favor de nossos direitos. Queremos deixar como herança aos nossos descendentes a coragem de lutar por seus direitos e a sensibilidade de indignar-se diante das injustiças.
Queremos ter o direito de viver com dignidade em nossa terra chamada Portel, lugar onde nascemos, crescemos, criamos laços afetivos de amizade e nos constituímos enquanto mulher, trabalhadora e mãe. Pois “o respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros”. (Paulo Freire)
O tempo passa e práticas retrógradas insistem em se tornar fortes e presentes em nossa história. Quantos educadores, pais e mães de famílias foram subjugados ao poder vigente e tiveram que deixar seu município para, muitas vezes, até mesmo mendigar o pão em terra estranha? Quantos ainda viverão aos julgamentos daqueles que se deleitam com a tristeza de seus desafetos e se acham aptos a decidirem o futuro das pessoas, decidindo se retiram ou não o pão de cada dia da boca dos filhos de quem os desagradam? Quantos de vocês, companheiros (as), serão ainda humilhados(as), se não diretamente, mas através de um ente querido, se essa cultura de perseguição não for dizimada de nossa história?
“A prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência.” (Mahatma Gandhi)
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