O
Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação na Justiça
pedindo o reconhecimento do território da comunidade do Sítio São
João, no município de Barcarena (nordeste paraense), como
pertencente à comunidade tradicional. O pedido de ajuda partiu dos
próprios moradores do sítio, que constantemente são ameaçados por
empresas particulares, órgãos públicos e também por novas
instalações da Alunorte.
Após
o pedido, o MPF solicitou uma perícia sobre a comunidade para o
Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea) da Universidade Federal
do Pará (UFPA) e obteve como resultado o trabalho intitulado
'Quilombolas-Indígenas
do Sítio São João: formas de existência e resistência no rio
Murucupi, Barcarena-Pa'.
O
Naea concluiu que, de fato, “se trata de uma comunidade com
tradição e consciência de identidade quilombola e indígena”. O usufruto da terra era fundamentado nos
costumes e tradições familiares de várias gerações, que tinham
sua própria organização social, cultural e econômica. As
necessidades materiais e a reprodução social das unidades
familiares do Sítio São João eram satisfeitos mediante a dinâmica
de suas formas de existência e modos de vida diferenciados, por meio
dos rios e igarapés, dos quais, juntamente com a terra e as matas,
retiravam-se o sustento da família e se ofertavam mercadorias em
mercados nas cidades.
Impactos - Com
a instalação da empresa pública Companhia de Desenvolvimento de
Barcarena (Codebar) e deslocamento da comunidade de suas
terras, houve diversos impactos de ordem social e
ecológica no ambiente que era habitado pelos Quilombolas-Indígenas
do Sítio São João. O rio Murucupi, que era a via de entrada e
saída para vários sítios, e às suas margens era dinamizada a
economia do lugar, depara-se com outra realidade. Agressões em seu
leito e o processo de assoreamento prejudicam todo o curso natural
pelo qual era conduzida a vida dos moradores. Com isso, a
comunidade ficou desamparada, sem estudo, moradia e condições de
garantir o próprio sustento.
O
território Sítio São João foi desapropriado sem indenização
digna às famílias que lá residiam. Em 2008, após anos
procurando outros meios de sobreviver, algumas famílias voltaram ao
Sítio e se depararam com suas terras invadidas por pequenas empresas
e novos moradores. Em uma área bem menor e que ainda vive ameaçada
por novas instalações da Alunorte, alguns
familiares reconstruíram suas casas, tentaram abrir roças e fazer
plantações de frutas, mas muitos deles tiveram que buscar outros
meios de vida por conta da poluição do solo no território.
Situação hoje - Apesar
do retorno das famílias ao Sítio São João, o confronto com
autoridades tem sido constante e os familiares continuam sendo
ameaçados. Além disso, eles ainda são chamados de invasores por
empresas como Alunorte-Albrás e até mesmo pelo Governo
Federal.
Segundo
a ação do MPF, “o reconhecimento do território como pertencente
à comunidade tradicional não é apenas uma questão de
sobrevivência material, mas também uma maneira de manter as suas
tradições e seu modo de vida ligado à terra, aos recursos naturais
e ao significado simbólico-histórico que liga gerações das
famílias do Sítio São João àquele espaço territorial”.
No
documento, o MPF solicita que o caso seja julgado em caráter de
urgência e que a União pague indenização por danos morais à
comunidade do Sítio São João.
George
Miranda
Ministério
Público Federal no Pará
Assessoria de Comunicação
Assessoria de Comunicação
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