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quarta-feira, 25 de maio de 2016

As consequências do clamor por justiça

O texto a que agora me dedico está sendo produzido enquanto aguardo uma consulta médica com o famoso Dr. Luis Otávio, em Portel. Penso em escrever este texto dissertativo sobre justiça e suas consequências. Antes de baixar a cabeça, os olhos meus divagavam pela sala de espera. Notei que havia um homem bem moreno, que meu pai sempre o contratava para pintar nossa casa. Se fosse usar o termo preto, as pessoas entenderiam qual a cor do cidadão, pois esta publicação tem a ver com a condição de ser afrodescendente e, particularmente pobre. Aliás, todos nós, nessa sala éramos pobres, em termos materiais, já que existem três tipos de pobreza: material, intelectual ou cultural e espiritual. No sentido de dar maior amplitude à visão do leitor, acrescento a presença da maioria de mulheres, seguidas por crianças. Até este momento, enquanto levanto oar que um jovem tente fazer o ar condicionado dada a quentura no posto, resumo os três tipos que são vítimas de todas as mazelas: pobre, puta e preto. 

Outro dia, eu participava de um protesto contra a violência, em destaque o assassinato de uma professora, na frente do Fórum. Enquanto todos prestavam atenção ao desenrolar das falas ao microfone, meu olhar focava uma família que perambulava de um lado para outro. Os policiais conduziam os presos para a sala de audiências com o juiz e, ao concluir, retornavam para uma cela dentro do Tribunal, e as famílias logo atrás. Notava que eram negros, mal vestidos, com as canelas e sandálias sujas da poeira da cidade, pois essa gente não tem carro, não tem moto, às vezes possui uma bicicleta. Indaguei a mim mesmo que crime teriam cometido aqueles jovens. Meu pensamento foi quebrado após eu ser convidado a me manifestar ao microfone. Aquela cena voltou inúmeras vezes, sempre me fazendo pensar que aquelas famílias são vítimas de um sistema perverso, o Sistema Capitalista, no qual vale quem tem dinheiro. 

No jornal do meio dia, apresentador Cleudo Gomes mostra assaltantes e a apresentadora da Record, Alba Lobato, traz notícias de morte, a Arucará também, por meio do repórter Viola de Jesus, traz clamores sobre violência e meu blog, que também veicula histórias locais, exibe histórias de explosões originadas de combustível adulterado. Do outro lado da tela do computador ou da TV, os cidadãos pedem justiça. Igualmente, as redes sociais clamam por justiça. Às vezes, as pessoas entram em choque uns com os outros, porque a justiça atingiu um dos seus. Mas o pobre, a puta e o negro tem que calar, mesmo que morra um filho torrado com gasolina ou outras situações a que o povo pede justiça. Volta e meia olho ao meu redor, sendo cumprimentado às vezes, e penso quantos desses usuários possuem problemas, injustiçados por falta de atendimento e, ao meu lado, uma professora cujo marido perdeu o emprego, resultado de falta de planejamento do governo, embora a esses a justiça da igualdade na busca do emprego seja diferente daqueles que morreram, esta prisão sem saída ou volta. 

O lugar está quente, o técnico em refrigeração acabou de levara central de ar, as mulheres se abanam, uma lésbida a minha frente chega toda cheirosa e logo começa a transpirar. Esta é mais uma vítima, a da discriminação sexual. Mas eu penso que, ao pedir justiça, acabamos descarrilando o trem e as consequências são inevitáveis. Depois de acionado o gatilho, não tem volta. Para quem não está envolvido numa situação de vulnerabilidade, de desespero, a vida segue, especialmente se for bem abnegado. Mas, e se atingir o riquinho? Se a justiça pegar pra bóia o filho de papai, da família tradicional, nem o juiz não presta mais. Outrora prestava, assim como promotor, defensor, Para estes, particularmente que se acham os reis da codada preta, deveria existir um um tribunal especial, um mundo separado, deuses intocáveis.

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