Quando eu era criança sempre ouvi falar de pessoas invejosas, maldosas e feiticeiras. Os invejosos eram, só por sua natureza, os que não se deveria mostrar os bens, nem uma pimenteira sequer, pois tudo poderia ser riscado do mapa só com um olhar, como o caso das folhas da malagueteira.
Os maldosos enfiavam a língua no ouvido do melhor amigo, envenenando-lhe o espírito ou mesmo saindo pra vias de fato, só pra amassar a carenagem daquele ou daquela que fosse mais abençoado no nascimento. Os feiticeiros poderiam deixar a gente doente e até morrer. Mas a história de hoje é sobre a vizinha invejosa que, não deixava de ser maldosa e feiticeira também.
Dona Maria, ao ver um carro trazer uma geladeira novinha em folha à porta de nossa casa, mesmo sem possuir energia elétrica, logo dizia:
- É uma dessas que eu tenho vontade de comprar e - resmungando, batia a mão em forma de martelo na outra palma - vou e vou comprar uma igualzinha!
Por outro lado, a vizinha da direita não possuía lá essas coisas de bens materiais (diziam que ela era uma grande feiticeira, mas que, por ser nossa parente, nunca ousou balançar sua varinha de condão em nossa direção), limpava o seu quintal a cantar. As árvores eram todas saudáveis no seu quintal, assim como os bichos como galinhas e patos. A da esquerda, a invejosa, nem laranjeira subsistia.
A vizinha da direita, por nome de Raimunda, recolhia todas as folhas do quintal e nunca as queimava. Ao contrário, juntava-as todas ao pé do abacateiro, da laranjeira e até da sensível malagueteira, que as vezes murchava ao ser observada pela invejosa Dona Maria, sempre a dizer:
- Queria tanto que as plantas do meu quintal fossem verdinhas como a da Dona Raimunda.
E assim seguia a vizinhança desconfiada da maior invejosa do bairro, nem tão perigosa como a maior linguaruda de Portel. Mas esta, meu pessoal, só conto na próxima vez.
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