O Encontro Inter-Núcleos com o
tema "Conflitos socioambientais em Reservas Extrativistas e Projetos de
Assentamento Agroextrativista na Ilha de Marajó" resulta de uma
articulação e construção de mais de oito meses que tem como nota diferenciadora
estar sendo realizado na sede do município de Portel, uma pequena cidade, o que
o torna diferente dos já realizados no circuito das capitais de Estados da
Amazônia ou de cidades medias. Retomamos que no Pará já ocorreram dois eventos
– a Reunião Preparatória em Marabá (4 a 6 de setembro) e o Encontro Regional em
Belém (21 a 23 de setembro de 2012). Os eventos anteriores nos quais
pesquisadores e movimentos sociais estiveram mobilizados para debater estes
temas na ilha de Marajó foram às reuniões acompanhadas de trabalho de campo em
Breves, Portel e Melgaco (fevereiro 2012), em Cachoeira do Arari (19 a 21 abril
2012). Igualmente, debateram-se realidades localizadas da Ilha de Marajó no
Encontro Regional sediado em Macapá, também nos dias 24 e 25 desse ultimo mês.
A situação dos pescadores da RESEX Marinha de Soure; as reivindicações dos
quilombolas de Salvaterra, os conflitos com o agronegócio (monocultivo de arroz
na várzea) que se inicia no município de Cachoeira do Arari. Assuntos que
tiveram espaço priorizado no Encontro Regional Inter-Nucleos de Macapá.
Em Portel as atividades do
Projeto encontraram apoio na SEMED – Secretaria Municipal de Educação do
Município de Portel, o que reitera a colaboração anterior, em fevereiro. O fato
é muito positivo, pois temos cinco professores com função de diretor,
coordenadoras pedagógicas e Técnicas vinculados a Educação do Campo
participando ativamente nestes dias 02 e 03 de outubro.
Para o Encontro foram convidados
os dirigentes das comunidades de São Tome de Tauçu, São Miguel, Nossa Senhora
da Aparecida, situadas no rio Acutipereira, município de Portel. Do quilombo de
São José da Povoação, localizado no rio Mutuaca (Curralino), conta-se outro
grupo de participantes. A Secretaria do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Portel tomou parte do evento.
O Sr. Antônio Vaz – Diretor de Agroextrativismo
do Município de Portel e que trabalha na zona rural com grupo de jovens abordou
o quadro realista da exploração da madeira local durante mais de 40 anos e
indagava: "qual foi o ganho social para Portel de retirar quase toda a
madeira e acabar com essa riqueza, O que ainda continua sendo feito? Nossa
madeira continua sendo tirada e não fica nenhum ganho social. A madeira de
Portel não agregou nenhum valor".
A senhora Justa Pantoja de
Oliveira relatou que em 1997 foi criado um decreto municipal em Curralinho que
proibia o corte de palmito. Foi aprovada igualmente a proibição de corte de
madeira fina, mas "para esbandalhar esta lei foi aprovada outra lei que
liberou o uso de motosserra". A senhora Justa e membro da Associação de
Remanescente de Quilombo de São José da Povoação que luta há oito anos pelo
titulo coletivo. O pedido do Certificado de Reconhecimento pela Fundação
Cultural Palmares solicitado por essa Associação há mais de um ano, ainda não
foi atendido, mostrando o descaso com as reivindicações do grupo que como
outros quilombolas aguarda da burocracia do Estado brasileiro uma ação
condizente.
Deste grupo parte a negativa de
aceitar a politica da Bolsa Verde, pois consideram que sua luta é pelo
território e com a bolsa tornam-se dependentes. Nos comentários de Raimundo
Elinaldo de Jesus, também membro dessa Associação e Coordenador Regional da
MALUNGU é feita a critica a essa politica, pois ela vem de cima para baixo e
não se analisam seus efeitos. Exemplificou com o fato de que as pessoas recebem
a bolsa verde e compram um motor para a canoa, com isto precisam fazer a
despesas com a gasolina. A única forma de ter dinheiro para compra-la é cortar
madeira.
O Encontro continua com o Curso
Introdutório de GPS, elaboração de croqui preliminar do rio Acutipereira e o
território do quilombo São José da Povoação. O rio Acutipereira será objeto de
uma visita para fazer georreferenciamento de povoados e realização de
entrevistas.
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