Depois de cumprir alguns compromissos, cedi aos apelos de
familiares a ir ao show de uma “aparelhagem” de sucesso que se apresentaria na
praia do Arucará. Fui e obtive as impressões abaixo.
Ao sair de casa fazia uma chuva leve, mas que, ao
transportar alguns dos parentes para a arena de shows da Rua da Vivência, tive
que trocar de roupa porque ficou toda encharcada. Não era diferente com dezenas
de pessoas que retornavam sem que o show tivesse começado, todos molhados como
se fossem pintinhos sob a chuva.
Depois de procurar um local pra estacionar a moto, segui em
direção à concentração do povo e não foi nada agradável ver que a arena se
tinha transformado em uma lagoa. Mesmo com toda a água que se acumulou ao redor
do palco, as pessoas não arredavam pé, dançando na lama. Até irônico, pois já
assisti ao filme Dançando na chuva e, agora, via a juventude dançando na lama e
na chuva.
A população se concentrou aos milhares, com chuva na cabeça
e lama nos pés, enquanto que os amigos do poder ficavam acomodados e protegidos
da chuva sob o teto de um enorme palanque, que no ano passado foi pequeno,
cabendo mais o pessoal de primeiro escalão do governo, deixando os demais fora,
na chuva. Ali estavam empresários, assessores, ganhadores de licitações,
seguranças, advogados, e até um dos grandes controladores do tráfico de drogas
da região. Abaixo do palanque, o povo, encolhido e com frio, escondendo-se dos
pingos de chuva que pareciam não parar mais.
Nas laterais podiam-se encontrar carrinhos de bombons, quiosques
de hambugeres, vendedores de cerveja e tantos outros como vendedores de
churrasco. Vendas de bebidas pareciam não combater as inúmeras caixas térmicas
contendo cerveja, o povo cada vez mais embriagado, sob o olhar de uma dúzia de
seguranças particulares que aufereriam seus 50 reais para controlar vários
focos de brigas por diversos motivos.
Posicionei-me num espaço com visão
angular considerável. Bem perto de mim, um rapaz puxava briga a todo custo,
inclusive jogando areia em nossa direção, deixando meu cabelo, camisa toda
suja, mas não surtiu efeito em mim tal provocação. Um cara bem jovem e bêbado
que dançava com um grupo de moças no lamaçal foi provocado pelo mesmo moreninho
que jogou areia em nós e aceitou a encrenca, partindo para o corpo a corpo.
Houve um intervalo nessa intriga e logo o DJ começava a festa com fogos de
artifício, jogos de luzes e um som bem elaborado, tocando músicas de cantores
diversos e até musiquinhas de crianças, parecendo desafiar a sobriedade ou a
inteligência das pessoas, mesmo que nessa hora é difícil saber se existe
inteligência na terra, tamanho é o teor alcoólico. O DJ até incentiva as
pessoas a olharem um drone que percorria o céu, como se esse povo nunca tivesse
visto essa maquininha.
Logo depois, entremeio a moças com os cabelos que antes
estiveram sob o efeito de alisamento e senhoras que tinham usado maquiagem para
esconder os defeitos da idade, roupas que eram pra estar bem voante ao vento,
estavam coladas no corpo, às vezes delineando bem um corpo bem esguio, outras
vezes denotando os defeitos provocados por muita gordura e a condenável
sedentarismo.
Mudei de lugar, indo de encontro com a Turma do Midback. Lá
iria acontecer outra briga, porque um dos rapazes tirou pra dançar uma senhora
e o filho ficou com ciúme e partiu pra agressão ao pé-de-valsa. Nesta hora eu
já confirmava as minhas suspeitas de quem estava seguro mesmo era o pessoal do
palanque, mas o argumento que me convenceu a ir a essa festa foi a de que a “aparelhagem”
custou muito caro. Tão caro que dizem que a Casa da Cultura, que não pode
emitir mais de 15 mil reais, custeou o DJ e sua parafernália de um ônibus, três
carretas e toneladas de ferro. Dizem que um deputado também, pela primeira vez,
ajudou com alguma ação em Portel, complementando o valor, dizem, de R$ 120 mil.
Logo depois que vi que tava quebrando muita porrada, resolvi
me retirar. Um membro da família prestou queixas na delegacia por agressão
física. Melhor ir pra casa porque foi um show de muita porrada.
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