Por Samuel Lima (*)
Olá! Muitos de meus livros ainda guardo-os
comigo. Outros emprestei e não os tive devolvidos. Alguns, o tempo os destruiu
e outros, somente agora dei por falta. Mas os ilesos que ainda restam, guardo
com muito zelo, os meus amigos silenciosos. Vez por outra, olho para eles. São
ainda cerca de mil e quinhentos. Estão em quase toda parte.
Os técnicos e os científicos levei-os
comigo para o meu novo local de trabalho. Os didáticos e os de informação como
as enciclopédias, entulham a minha humilde sala de leitura. Os de cunho
religioso, filosóficos de auto-ajuda estão próximos ao meu aposento. O Mais
antigo é a minha Bíblia Sagrada, bastante rabiscada e com anotações ao rodapé.
Em segundo lugar vem o de História Geral, editado em 1971, da editora Ática de
José Jobson de Arruda e Oswald Rodrigues. Mas há também alguns modernos como o
velho e bom Dicionário Houaiss da língua portuguesa, com os seus mais de 54 mil
verbetes, editado na Rua do Cosme Velho, no Rio de Janeiro.
Os indispensáveis: Manual de Economia, o
eficaz Dicionário dessa nobre ciência que traduzem os fenômenos e os axiomas
dela resultante. O moderníssimo “Amazônia, Raízes do Atraso, de Cristóvão Lins.
Mas tenho ainda alguns que muito me ajudaram na minha formação profissional e
consciência política como o “Origem do Totalitarismo de Hannah Arendt; O
“História das idéias Políticas do Châtelet; O Capital de Carl Marx; O Riqueza
das Nações de Adam Smith; “A era dos Extremos” de Eric Hobsbawn; o “Formação
Econômica do Brasil” de Celso Furtado; O “Casa Grande e Senzala” de Gilberto
Freire; “A Ditadura Derrotada” de Élio Gaspari; Uma coleção de pensadores
clássicos de todas as matizes ideológicas, entre eles, Thomas Moore, Voltaire,
Rousseau, Montesquieu, Maquiavel, Jean Paul Sartre, David Ricardo, Nietz, etc.
Guardo como relíquia, o “Oficina de
Redação” da Editora Moderna (presente da professora paulistana, de cursinho
pré-vestibular, Clébia Smith), o qual me permitiu obter 19 dos 20 pontos
exigidos no processo seletivo para entrar na faculdade de economia, e o “Face a
Face com Deus” de autoria do meu amigo, Orziro Santana da Cruz. As mãos e o
olhar passeiam por eles, mas não falam uma única palavra, não chamam, não
perguntam, não se queixam. Esperam até o dia em que são abertos. Só então
exalam o seu fulgor.
É prazeroso saber que ao alcance de minha
mão eu posso contemplar aos feitos de Muhammad Yuns no “Banqueiro dos Pobres”,
ter acesso às estratagemas dos métodos militares de Sun Tzu no “A Arte da
Guerra”; ouvir Alexandre Dumas, lendo "Os Três Mosqueteiros". Edgar
Allan Poe, Emile Zola, Fiódor Dostoievski, Euclides da Cunha, José de Alencar.
Posso ler Trindade Coelho, no livro: "Os Meus Amores," ou conversar
com Teixeira e Sousa, nas "As Tarde de um Pintor". Quanto conhecimento
acumulado não pode destilar desse manancial inesgotável que me cerca? Estou
agora com o livro de Charles R. Morris que discorre sobre as fortunas de
Rockfeller, J.P. Morgan e Andrew Carnegie no "Os Magnatas” e por último,
impressionado com as poesias de Castro Alves"Os mais Lindos Poemas."
Leio o poema: "O Livro e a América"; na nona estrofe ele escreveu:
"Por isso na impaciência/ Desta sede de saber/ Como as aves do deserto- As
almas buscam beber.../ Oh! Bendito o que semeia/ Livros...livros à mão-cheia/ E
manda o povo pensar!/ O livro caindo n’alma/É germe - que faz a palma/É chuva -
que faz o mar." Ele, o livro nos inspira quando a mente embotada teima não
pensar.
Quando chego em casa cansado da labuta
diária, numa tarde de feriado, numa noite de insônia, nada é mais prazeroso do
que se aproximar da estante com o um indizível prazer e uma doce sensação e
abrir um livro. Milhares de olhos, milhares de nomes perscrutam-me paciente e
silenciosamente à busca do olhar inquiridor, como as abelhas escravas de uma
colméia para a rainha, esperando servilmente o chamado, e orgulhosos
sobremaneira serem escolhidos e poderem ser úteis.
Não é o cupim ou traça que do livro é o
inimigo. Suponho que o maior inimigo do livro é a ignorância. A ignorância o
mutila, o despreza, deixa-o mofar inerte no fundo de um baú, ou empoeirado no
canto de uma estante. O livro serviu para a humanidade deixar escrito o seu
pensar, as suas descobertas, as suas idéias e a construção mais íntimas de seus
pensamentos. Pensamentos brotados na imaginação de um momento sublime,
transmitir a idéia da emoção de um instante, como a fotografia perpetua uma
cena para posteridade. Emoções, tristezas, alegrias, felicidades, desamores,
frustrações, decepções, dissabores, alma abatida, dor e pessimismo, recheiam
milhões de páginas escritas que dormitam nas bibliotecas do mundo.
Cada livro trás um pouco do seu autor.
Influências, vida social e amorosa, perfil psicológico e traços do caráter.
Manias, decepções, vaidades, baixa ou auto-estima. Misantropia, timidez, ou
audácia, pode-se descobrir nas entrelinhas dos escritos do autor.
Os meus
livros são meus amigos, nunca me decepcionaram. Conheço-os e sei onde eles se
encontram. Nenhum se esconde de mim. Quando algum desaparece, logo sinto a sua
falta. Eles têm o meu cheiro, têm a marca de minhas mãos. Alguns têm a
dedicatória e a assinatura de bons professores que devido a minha tenaz
dedicação, me presentearam ao longo de minha vida acadêmica. Só lamento não
possuir a “Cartilha do ABC” e a “Cartilha Paraense” nas quais quando menino -
emergi do mundo das trevas da ignorância - para o mundo civilizado da escrita.
Contudo, guardo também, alguns exemplares das Revistas da Escola Bíblica
Dominical, com assinatura de minha mãe, que as recolhi quando ela partiu pra
eternidade.
Por último, parafraseio aqui o reverendo
Oton Alencar que assim se expressou sobre seus livros: “Queria poder viver um
século para ler o que tão belo já foi escrito e poder ler os que ainda não
chegaram às minhas mãos. A isso, o Padre Antonio Vieira ressaltou: "O
livro é um mudo que fala; um surdo que responde; um cego que guia; um morto que
vive".
(*) Portelense, economista,
pesquisador-chefe do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais do Estado do
Amapá e atual Secretário Municipal de Planejamento em Mazagão (AP). E-mail:
samlima17@yahoo.com.br – facebook: Samuel Barbosa. Texto publicado em
Santana-AP- Brasil - às 23h30min do dia 17de Agosto de 2013.
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