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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

“Bugarim: O advento da Associação dos Estudantes de Portel

O texto reflete uma lembrança de sofrimento e exclusão aos que tentaram - e até que alguns conseguiram - estudos para além do poder do estado, assim como traz ao debate novos desafios que se impoem aos atuais estudantes.

 
 
Por: Luiz Sérgio de Carvalho

A vida distante da família é um tanto desprazerosa e difícil. A família constitui-se em sustentáculo essencial e base da formação moral do indivíduo.
 
É de conhecimento publico que o jovem portelense pelos idos anos 70 e 80 não tinha como continuar os estudos no município, pois não existia o “Cientìfico”, denominação correspondente ao que é hoje o Ensino Médio, apenas o “Ginásio” e, muitos desses jovens tinham o sonho de tornar-se “alguém na vida”, isto é, ter formação superior, tornar-se um médico e encher os progenitores de orgulho. E para isso, a única solução era deixar seus pais, irmãos, amigos e a terra amada para aventurar-se até Belém no intuito de conseguir o tão almejado objetivo.
 
A concretização desse propósito dependia muito do lado financeiro da família. A maioria desses jovens não eram abastados. Levavam uma vida de classe média baixa e alguns até na pobreza, em seu termo real. No entanto, muitos jovens arriscavam-se a residir em Belém para atingir esse fim.
Esse êxodo iniciou-se pelos anos 70 com a ida de Twist, filho do Sr. Anselmo, os filhos do seu Nenen Almeida (Leuda, Oca, Nice Laura), os filhos do Sr. Gonzaga e os do Sr. Ladislau Queiroz.
 
A migração continuou com Walter Coelho, Ademir Tavares (Boto Preto), Otinho Fialho, Silaney Rocha (Piroca), Sandoca, Jorge Pires, Adson, Afonso, Antena, Damico, Ademir da Guia e muitos outros. Inicialmente não tinham onde residir, mas, pela providência divina, surgiu no caminho desses jovens uma senhora de coração do tamanho de Portel que os acolheu em sua humilde casa na Passagem Bugarim, no Bairro da Cremação. Esse anjo chamava-se Dona Preta, mãe do nosso “Soberano da palavra ritmada”, Gilberto Paranhos. Essa verdadeira Lady, de coração cheio de bondade, sabendo das dificuldades desse rapazes, compadeceu-se deles e os colocou para morar em sua própria residência, juntamente com seus familiares, estendendo a eles seu carinho e fazendo deles verdadeiros filhos. Infelizmente esse anjo de bondade foi chamado para o lugar lhe é de direito: o céu.
Os estudantes também fizeram uso da casa de Dona Noca, mãe do Nego Paranhos, na Frutuoso Guimarães, no comércio. Nesta época a denominação AEP (Associação dos Estudantes de Portel), começou, efetivamente, a existir. Um Estatuto foi redigido e o governo municipal começou a apoiar através de incentivo financeiro. Por ali estiveram vários portelenses, entre eles: Damico, Marilda Wakimoto, Carlinhos Araújo (Mapará), Sandoca, Alice Terra, Morena e outros.
 
 Da Frutuoso, os estudantes migraram para avenida Conceição, no Jurunas. Era uma casa modesta que tinha como grande colaborador, em todos os sentidos, o Sr. Humberto Prado. Neste período houve pleito para se escolher o Presidente da AEP tendo como aspirantes ao cargo o próprio Humberto Prado e Carlinhos Carvalho, tendo este último sido o vencedor com a maioria dos votos. Nesta fase residiram lá jovens como: Carlinhos Carvalho, Adson Mesquita, Prof. Afonso Mesquita, Morena, Mary Wakimoto, Alice Terra, Zé Maria (Colmeia), Damico, Léo da CEIA, Ércio, Edinilton e Guilherme.

Nesse período de ouro, muitos portelenses tiveram papel fundamental na manutenção e cooperação dessa Instituição. Não se pode esquecer, também, de Siliney Rocha, Diretor de Esportes, atuante na sua função de marcar jogos nos campos de peladas de Belém.
 
Da Avenida Conceição a Associação foi transferida para a Estrada Nova onde começou sua decadência. De lá continuou com sua sina de nômade retornando à bulgarim, agora em nova casa. A vocação ao ato migratório iria se confirmar com a mudança para a Rua 21 de Abril.
 
Novamente a sede mudou-se para a Padre Eutíquio quando, começou a soerguer-se. Nessa fase residiram lá Rildo do Fórum, Júnior Camapum, Léo da CEIA, Geraldo Paranhos e Damico.
Cumprindo com sua sina de andarilha, ela, de novo, tomou outro rumo, tendo como ocupantes Damico, Trindade, Dulcival, Peru, Reginaldo Paz, Clodoaldo e Cuia.
 
Daí em diante, acéfala, após a renúncia de seu então Presidente, teve sua derrocada decretada. Assim, sem inquilinos, ela perdeu toda a finalidade a que tinha sido criada: a de ajudar jovens portelenses carentes nas conclusões de seus estudos.
 
A Associação dos Estudantes de Portel sumiu, escafedeu-se, entretanto, quem viveu esse período, a tem em um lugar guardado no coração, na sua memória.
 
E hoje me pergunto onde está aquela casa que não tinha móveis, não tinha nada, apenas geladeira e fogão e muitos estudantes com sonhos em comum de conseguir a formatura. Sim, ela existiu e serviu ao propósito a que foi criada. É só observar os muitos jovens que da AEP souberam extrair grande proveito. Muitos estão com os estudos concluídos graças à própria fé e persistência e, indiscutivelmente, à Casa dos Estudantes de Portel.

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