Num ano de eleição pela alternância
na esfera da administração pública municipal (prefeitos e vereadores), a defesa
e o discurso local giram em torno de uma escola e, portanto, de uma EDUCAÇÃO DE
QUALIDADE. Haja vista, termos tido, também, em nosso município a I, II e
III Conferência Municipal de Educação, que mostraram/mostram nossas
deficiências/fragilidades no contexto de rede municipal de ensino, e a
necessidade e a relevância de fazermos efetivar a tão propalada/sonhada “QUALIDADE” na
educação do município.
Na I Conferência o município saiu
comprometido, sendo signatário do “Termo de Adesão
ao Plano de Metas Compromisso Todos Pela Educação”. (Decreto
Federal no 6.094, de 24 de
abril de 2007), assinado publicamente pelo prefeito Pedro
Barbosa, juntamente com o então Secretário Municipal de Educação, Orziro
Santana.
Muito se fala sobre “qualidade”, a
ponto dessa palavra perder o seu significado pleno, tornando-se superficial e
diluída em práticas perversas nas políticas emanadas para a educação municipal
de Portel. Mas o que, especificamente, seria uma escola e uma educação que se
quer “de
qualidade” e para a “cidadania??????????”
Respondemos essa indagação com uma
reflexão no que a recente literatura oficial (Ministério da Educação [MEC])
conceitua como tal para o projeto de educação nacional. Para tanto, vejamos
primeiro o que diz o “Manual de Elaboração
do Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE)” (XAVIER & AMARAL, 2006):
Por
escola de qualidade entende-se a que desenvolve RELAÇÕES INTERPESSOAIS que conduzem a ATITUDES E EXPECTATIVAS POSITIVA EM RELAÇÃO AOS ALUNOS;
que COLOCA O ALUNO COMO FOCO DE SUAS PREOCUPAÇÕES;
que dispõe de RECURSOS HUMANOS COM FORMAÇÃO E MOTIVAÇÃO ADEQUADAS e com MATERIAL ESCOLAR E
DIDÁTICO NECESSÁRIO; que conta com INSTALAÇÕES EM
QUANTIDADE E EM CONDIÇÕES ADEQUADAS DE FUNCIONAMENTO; que tem ASSEGURADO A
PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NO ACOMPANHAMENTO DO DESEMPENHO DOS FILHOS e na AVALIAÇÃO DA ESCOLA. Além disso, uma escola de qualidade é AQUELA QUE
CONSTRÓI UM CLIMA ESCOLAR QUE FAVORECE O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
e que define e organiza PROCESSOS QUE CONDUZEM
AO ALCANCE DE SEUS OBJETIVOS. A reunião dessas
características se traduzirá em bom desempenho dos alunos (XAVIER &
AMARAL, 2006, p.6, grifos nossos).
O professor José Carlos Libaneo
conceitua educação de qualidade da seguinte maneira:
Educação
de qualidade é aquela em que a escola promove PARA TODOS O DOMÍNIO DE
CONHECIMENTOS E DESENVOLVIMENTO DE CAPACIDADES COGNITIVAS E AFETIVAS necessárias ao atendimento de necessidades INDIVIDUAIS E
SOCIAIS DOS ALUNOS, à inserção no mundo do trabalho, à constituição
da cidadania, inclusive com poder de participação, tendo em vista a construção de uma sociedade mais
justa e igualitária” (PIMENTA, 2002, p. 90, grifos nossos).
Diante das premissas acima, como podemos dizer que temos qualidade em
nossa educação e em nossas escolas, quando as relações interpessoais estão
esgarçadas e em conflito não resolvidos? Quando os gestores não trabalham de
forma compartilhada; não vemos atitudes e expectativas positivas em relação aos
alunos, tendo alguns professores descompromisso com relação aos alunos,
faltando ao trabalho de forma abusiva; como ter qualidade,
quando o foco nas escolas não é o ALUNO E SUAS
NECESSIDADES? E sim, os aspectos BUROCRÁTICOS do âmbito empresarial.
Como querer qualidade, quando os
professores e professoras não têm RECURSOS com material escolar e didático
necessário? Quando os recursos financeiros do programa Dinheiro Direto na
Escola (PDDE) são destinados para outros fins, contrários ao investimento
direto e efetivo ao processo e ao fazer educativo (apoio didático-pedagógico)?
Quando o Conselho Escolar é inoperante ou só se reúne pra tratar somente do
recurso financeiro?
Como querer qualidade quando os
docentes NÃO contam com instalações em quantidade e em condições adequadas de
funcionamento na escola (salas de aulas adequadas, refeitório; quadra
poliesportiva coberta; sala de vídeo, auditório)? Como querer qualidade,
quando as reuniões tanto com os pais quanto com a equipe escolar são
esporádicas durante o ano e NÃO PRIMAM pela participação dos pais no processo
educativo e na avaliação ampla da escola e da rede de ensino?
Como querer qualidade, quando o PPP
e o Regimento Escolar são apenas documentos mortos e engavetados na escola,
para satisfazer a burocracia da SEMED apenas, não há iniciativa efetiva da
gestão (por ser o carro chefe) em colocá-lo em prática no âmbito escolar? Tudo
isso descumpre a FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA, que é formar o cidadão pleno de
direitos e deveres; formar o cidadão emancipado.
O mestre Paulo Freire ensina que não
é possível esperar que a sociedade solidária e justa se realize para só então
por-se em prática a construção de uma educação crítica e libertadora. É
na sociedade atual, e por causa dela, que individual e coletivamente os
educadores (todos dentro da escola) devem assumir
o papel de sujeitos construtores da escola e da sociedade liberta da opressão.
Mesmo porque, a despeito da educação, vista numa perspectiva histórica, ser
apenas uma das dimensões possíveis da luta transformadora, ela é, sem sombra de
dúvida, um dos direitos mais importantes para a
formação de uma consciência crítica e para a inclusão de
importantes parcelas populares no exercício da cidadania, como sujeitos da
construção da utopia de uma sociedade econômica e socialmente justa e
democrática, de homens e mulheres livremente associados e felizes.
Não podemos desejar qualidade para a
educação, desprovida também do aprendizado e do exercício para a cidadania. A escola que defende a QUALIDADE de sua
educação deve, ética e coerentemente, se pautar pela idéia de cidadania no
ponto mais alto que o seu conceito permite. Ou seja: promover o
exercício da cidadania como prática histórica, constructo social fundamentado
nos princípios de dignidade, igualdade e
liberdade, assim como nos de justiça, participação, solidariedade, respeito,
não-violência, direitos e obrigações, que pressuponha a presença real e efetiva
dos sujeitos, sua subjetividade, vivenciando princípios de democracia e buscando a intensa
participação política e responsável dos atores envolvidos.
Segundo Xesús R. Jares (2006):
A cidadania
pressupõe, além do estado de direito, a capacidade de
decisão de todas
as pessoas nos assuntos públicos, em um contexto de democracia
participativa, laica, multicultural e solidária. [...] Assim, a principal missão da educação para a cidadania
consiste em formar pessoas politicamente e moralmente ativas, conscientes de
seus direitos e obrigações, responsáveis e respeitosas, comprometidas com a
defesa da democracia e dos direitos humanos, sensíveis, solidárias com as
circunstâncias dos demais e com o meio em que vivemos (JARES, 2006,
p.9, grifos nossos).
É notória em nosso município, por
muitos anos, a falta de participação da comunidade escolar nas decisões que lhe
dizem respeito (cf. Relatório da Controladoria Geral da União / Relatório de
Fiscalização nº. 368/2004 – 14º sorteio), que constatou em 2004 em várias
escolas irregularidades/fraudes no uso dos recursos do PDDE, decorrido da falta
da atuação efetiva dos conselhos escolares e da comunidade que ele representa.
Como querer uma escola de qualidade
e para a cidadania se a comunidade escolar se encontra alijada dos processos
decisórios? Que dizem respeito à vida e ao sucesso educacional de seus filhos?
Nem bem se instaura um processo de
alternância de governo municipal e já está instalado o clima de tensão e
terror, com rotatividade e transferências involuntárias dos professores ou
coordenadores pedagógicos, quebrando ou interrompendo a continuação de
projetos, ciclos de trabalhos com os alunos e projetos de formação continuada
com coletivo docente.
Ameaça desse ou daquele gestor ter
que deixar a escola por que não satisfaz aos interesses do “grupozinho da
politicalha”, muito embora o gestor esteja fazendo um trabalho em seu
estabelecimento e com o consentimento/respeito da comunidade escolar. Alguns, infelizmente
pela falta de COMPETÊNCIA TÉCNICA E POLÍTICA, precisam sair mesmo, como forma
até de alternância para deixar outro profissional desenvolver outro clima e bom
desempenho na escola.
NÃO DÁ para pensar e trabalhar por
uma escola de qualidade, quando por razão de alguns políticos terem “indicado
ou nomeado” o gestor da escola e os professores, esses mesmos políticos
arrogantes e prepotentes pretenderem forçar os gestores a estar na primeira
fila do palanque eleitoral, batendo palmas para os seus candidatos. E ai!, ai!
do funcionário que se atrever a sequer não comparecer no comício.
Então, como querer uma educação de
qualidade e para a cidadania se a vontade e a avaliação da comunidade escolar
não são soberanas? Se a educação fica submissa e relegada aos interesses
escusos de quem maquina, na surdina, seus próprios interesses e não o da
comunidade escolar?
Não tem coerência com qualquer
filosofia de trabalho sério, ético e de compromisso educacional, quando
políticos querem transformar os diretores em cabo eleitoral número um (e alguns
aceitam de peito aberto, pulsilanimente), a escola em curral eleitoral e seus
alunos em massa de manobra da politicalha.
POR TODAS ESSAS RAZÕES E EXPOSIÇÃO
DE MOTIVOS, é que nos indignamos. MAS NOS INDIGNAMOS MESMO e dizemos que
BASTA!!!!! Temos de efetivar nossas leis, arduamente conquistadas. Por essas
razões é que não podemos mais esperar acontecer, como diz a música do Geraldo
Vandré: “quem sabe
faz a hora, não espera acontecer”.
A qualidade da educação municipal,
que depende da legitimação e da participação efetiva de toda a comunidade
escolar para se alcançar a tão propalada qualidade, e que essa qualidade não se
dilua pela astúcia dos que manobram o poder.
Essas são as razões, as motivações e a indignação em continuar a levantarmos
essa bandeira. Este Manifesto é pela coerência, pela ética, pelo compromisso
para com a qualidade da educação que queremos para nós, para nossos alunos,
para nossos filhos e para toda uma nova geração dos filhos deste município de
Portel.
As leis, as diretrizes e as teorias
estão no papel, mas elas não andam, não sentem, não vêem, não falam, não
mobilizam ninguém. Cumpre a cada um de nós, verdadeiros educadores, assumir e
efetivar esse compromisso com a educação das nossas futuras gerações. Com
certeza a história irá cobrar de cada um de nós a postura e a posição política
diante desse desafio.
Vamos ousar! Os concursos públicos
do município de portel são exemplos, bem próximos, de ousadia e de que os
reclamos da sociedade um dia serão atendidos.
Portanto, ousadia, Portel!
ESTÁ
VIVO é estar em conflito permanente,
produzindo
DÚVIDAS, CERTEZA QUESTIONÁVEIS.
ESTÁ
VIVO é assumir a educação do sonho do cotidiano.
Para
permanecer vivo, EDUCANDO A PAIXÃO, DESEJOS DE VIDA E MORTE, é preciso educar o
medo e a coragem.
Medo e coragem EM OUSAR.
Medo e coragem EM ROMPER COM O
VELHO.
Medo e coragem em ASSUMIR A SOLIDÃO
DE SER DIFERENTE
Medo e coragem EM CONSTRUIR O NOVO.
Medo e coragem em ASSUMIR A EDUCAÇÃO
DESTE DRAMA, cujos personagens são nossos desejos de vida e morte.”
– Madalena Freire
(s/d) (Fragmentos da mensagem da Secretária Municipal
de Educação de Portel, assinada por Rosangela Fialho aos professores e
professoras e contido nos Diários de Classe em 2008.
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participação na escola: contribuições para a melhoria da qualidade da educação.
Texto disponível em: www.tvbrasil.com/salto.
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José. Como
Elaborar o Plano de Desenvolvimento da Escola; aumentando o desempenho da
escola por meio do planejamento eficaz. 2ª ed. /– Brasília: Programa
FUNDESCOLA, 1999.197 p.
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