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sexta-feira, 12 de julho de 2013

O medo de Alice

Por Ana Aranha
Enquanto se arruma para a escola, Alice Maria Libório, 10 anos, também se prepara para encarar seu medo. Em dias de ventania na Ilha de Marajó, antes do barco de madeira que faz o transporte escolar chegar, a mãe embala a filha e sua mochila em sacos plásticos e aconselha: sente no meio. Alice tenta obedecer, mas os bancos costumam ficar lotados. Ela se agarra a uma coluna no canto do barco e vai em pé. Pernas travadas, olhos fechados. Torcendo para chegar seca e salva.

Alice mora na zona rural de Portel, município paraense onde os rios servem de estrada. Sua casa se sustenta em palafitas sobre o rio Pacajá. Como os sete irmãos, ela aprendeu a nadar enquanto dava os primeiros passos. Por isso, conhece bem os perigos do caminho percorrido pelo barco escolar. Em dias de vento na baia que leva o mesmo nome do rio, as ondas fazem lembrar o mar.

Foi em manhãs assim, ao menos três vezes no ano passado, que ela viu colegas tombarem na água com mochila e tudo. “Teve um meninozinho que caiu, aí pararam o barco e puxaram ele. Sentou todo molhado na sala”. Quando Alice lembra da imagem da criança encharcada assistindo aula ao seu lado, os poros do seu braço ficam arrepiados. “O barco é velho, entra água pelas tábuas soltas, pode até afundar”, ela diz, alisando a pele do braço. “Tenho medo”.

Entrevistei Alice para reportagem sobre o mau uso do orçamento da educação em 2012, pela Agência Pública. Quando bati na porta da prefeitura com essa e outras denúncias, o prefeito não se abalou. Pedro Barbosa, então no PMDB, rebateu de primeira: os temores de Alice seriam “invencionices”. “Esses meninos nasceram e se criaram dentro desses barcos. Se der algum problema, eles mesmo sabem consertar”, disse o prefeito. O seu então secretário da educação foi além. Disse que os próprios alunos se jogam na água, com o barco em movimento, porque gostam de nadar.

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