Por Oton Alencar, via Samuel Lima
Heróstrato, o incendiário |
Tem um provérbio que diz: "Quem nasceu urubu, nunca
chegará a pavão". Não concordo muito com este dito popular. Porque sei que
o denodo, a persistência, a dedicação e o trabalho fazem o homem.
Muitos homens e mulheres nasceram e morreram e os seus nomes
nunca ficaram nem na ata de eleição para presidência de moradores do bairro que
eles moravam ou pelo menos na relação dos condôminos presentes na assembleia
geral do condomínio no prédio. Nessa impossibilidade, buscam a notoriedade a
todo custo.
A Síndrome de Heróstrato é um traço doentio do desvio da
personalidade. O portador desta morbidez sentido a impossibilidade de ser
protagonista da história por feitos honrosos, por liderança, heroísmo ou algo
benfazejo em prol da humanidade, procura deixar o nome escrito na história, por
atos desonrosos ou prática negativa que deslustra a vida de qualquer ser
humano.
Não sou psicólogo. E não quero arvorar-me como tal, mas
tenho impressão que muitas tragédias que acontecem sem razão de ser, foram
provocadas pela Síndrome de Heróstrato.
Heróstrato foi um obscuro cidadão da antiga Cidade de Eféso.
Esta era uma antiga cidade da Jônia, na costa do Mar Egeu, onde havia um belo
templo de Ártemis ou Diana, considerado uma das sete maravilhas do mundo
antigo.
Heróstrato era um efésio obscuro, não conseguia fazer nada
de bom ou de especial que pudesse ser lembrado positivamente na posteridade.
Mas queria ficar imortal. Assim, arquitetou uma destruição memorável. Incendiou
o Templo de Ártemis em Éfeso, na mesma noite em que nasceu Alexandre (no ano de
356 a.C). Os efésios indignados publicaram um decreto em que era proibido
pronunciar o nome de Heróstrato. Era o melhor meio de lhe assegurar a
imortalidade. Os inconsequentes encontram a imortalidade, tal qual Heróstrato,
em Eféso.
Heróstrato, o livro de Pessoa |
Este fato serviu de inspiração para a literatura mundial.
Fernando Pessoa foi buscar inspiração neste episódio para escrever o livro:
"Heróstrato e a Busca da Imortalidade". O intuito de Fernando Pessoa
neste livro era estudar a imortalidade, entendida como celebridade póstuma, sobrevivência
na história - nas suas várias causas e manifestações: gênio, notoriedade,
produção artística, atuação política, fama dos indivíduos, fama das nações,
tirania, santidade, poder militar, poder mental, grandes conquistas, grandes
escândalos. Todavia, contrariando seus propósitos, acabara por se centrar no
problema da sobrevivência das obras literárias concluindo que é impossível
saber quem ficará para história, sendo que o ideal; como afirma Pessoa
"seria uma epopeia que resistisse como Milton e interesse como
Conan".
Quando aquele incendiário se autocognominava "Rei do
Gueto", ou "Senhor do Pedaço", no momento da ação devastadora,
era a resposta que sua mente doentia lhe dava para contrabalançar a sua
inexpressividade de jovem pobre, que não estudava, diante da imponência e arte
de belo templo.
Aquela arte destruída teria a repercussão que haveria de
promovê-lo para história. Nada poderia diminuir a sua megalomania mesmo que
provocasse uma comoção coletiva. Era a busca obsessiva para sua notoriedade,
mesmo causando desalento.
E num último gesto tresloucado de desespero quis passar para
posteridade, pensando que incendiando o templo encontraria a resposta para sua
mente doentia, cujo gesto seria a única oportunidade de alcançar a fama
imortal.
Prefiro o narcisismo de Castro Alves no Recife, quando
estudava Direito. Diante do espelho, agitava os longos cabelos e exclamava:
"Tremei pais de família, prendei vossas filhas porque Castro Alves, vai
sair!".
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