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domingo, 27 de julho de 2014

A SÍNDROME DE HERÓSTRATO





Por Oton Alencar, via Samuel Lima

Heróstrato, o incendiário
Tem um provérbio que diz: "Quem nasceu urubu, nunca chegará a pavão". Não concordo muito com este dito popular. Porque sei que o denodo, a persistência, a dedicação e o trabalho fazem o homem.

Muitos homens e mulheres nasceram e morreram e os seus nomes nunca ficaram nem na ata de eleição para presidência de moradores do bairro que eles moravam ou pelo menos na relação dos condôminos presentes na assembleia geral do condomínio no prédio. Nessa impossibilidade, buscam a notoriedade a todo custo.

A Síndrome de Heróstrato é um traço doentio do desvio da personalidade. O portador desta morbidez sentido a impossibilidade de ser protagonista da história por feitos honrosos, por liderança, heroísmo ou algo benfazejo em prol da humanidade, procura deixar o nome escrito na história, por atos desonrosos ou prática negativa que deslustra a vida de qualquer ser humano.

Não sou psicólogo. E não quero arvorar-me como tal, mas tenho impressão que muitas tragédias que acontecem sem razão de ser, foram provocadas pela Síndrome de Heróstrato.
Heróstrato foi um obscuro cidadão da antiga Cidade de Eféso. Esta era uma antiga cidade da Jônia, na costa do Mar Egeu, onde havia um belo templo de Ártemis ou Diana, considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo.

Heróstrato era um efésio obscuro, não conseguia fazer nada de bom ou de especial que pudesse ser lembrado positivamente na posteridade. Mas queria ficar imortal. Assim, arquitetou uma destruição memorável. Incendiou o Templo de Ártemis em Éfeso, na mesma noite em que nasceu Alexandre (no ano de 356 a.C). Os efésios indignados publicaram um decreto em que era proibido pronunciar o nome de Heróstrato. Era o melhor meio de lhe assegurar a imortalidade. Os inconsequentes encontram a imortalidade, tal qual Heróstrato, em Eféso.

Heróstrato, o livro de Pessoa
Este fato serviu de inspiração para a literatura mundial. Fernando Pessoa foi buscar inspiração neste episódio para escrever o livro: "Heróstrato e a Busca da Imortalidade". O intuito de Fernando Pessoa neste livro era estudar a imortalidade, entendida como celebridade póstuma, sobrevivência na história - nas suas várias causas e manifestações: gênio, notoriedade, produção artística, atuação política, fama dos indivíduos, fama das nações, tirania, santidade, poder militar, poder mental, grandes conquistas, grandes escândalos. Todavia, contrariando seus propósitos, acabara por se centrar no problema da sobrevivência das obras literárias concluindo que é impossível saber quem ficará para história, sendo que o ideal; como afirma Pessoa "seria uma epopeia que resistisse como Milton e interesse como Conan".

Quando aquele incendiário se autocognominava "Rei do Gueto", ou "Senhor do Pedaço", no momento da ação devastadora, era a resposta que sua mente doentia lhe dava para contrabalançar a sua inexpressividade de jovem pobre, que não estudava, diante da imponência e arte de belo templo.

Aquela arte destruída teria a repercussão que haveria de promovê-lo para história. Nada poderia diminuir a sua megalomania mesmo que provocasse uma comoção coletiva. Era a busca obsessiva para sua notoriedade, mesmo causando desalento.

E num último gesto tresloucado de desespero quis passar para posteridade, pensando que incendiando o templo encontraria a resposta para sua mente doentia, cujo gesto seria a única oportunidade de alcançar a fama imortal.

Prefiro o narcisismo de Castro Alves no Recife, quando estudava Direito. Diante do espelho, agitava os longos cabelos e exclamava: "Tremei pais de família, prendei vossas filhas porque Castro Alves, vai sair!".

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