Exumação
do corpo comprova tiro na nuca, depois que ele estava imobilizado por três
tiros nas pernas. Crime é considerado hediondo
O
Ministério Público Federal (MPF) denunciou à Justiça Federal em Itaituba o
delegado
da
Polícia Federal (PF) Antonio Carlos Moriel Sanches pelo crime de homicídio
qualificado contra Adenilson Kirixi Munduruku, morto durante a Operação
Eldorado, no dia 7 de novembro de 2012, na aldeia Teles Pires, na divisa do
Pará com o Mato Grosso. A exumação do corpo do indígena comprovou os
depoimentos das testemunhas e demonstrou que ele foi executado com um tiro na
nuca, depois de ter sido derrubado por três tiros nas pernas.
Pelo
crime, o delegado pode ser condenado a até 30 anos de prisão. Se a denúncia for
aceita pela Justiça, ele será submetido a julgamento pelo tribunal do júri. A
Operação Eldorado deveria destruir balsas de garimpo que atuavam ilegalmente
nas Terras Indígenas Munduruku e Kayabi. O coordenador da operação era o
delegado Moriel Sanches.
No dia 6
de novembro, em uma reunião com os indígenas, teria sido feito um acordo para
assegurar a destruição das balsas no rio Teles Pires. Não há evidência de que
os índios da aldeia Teles Pires tenham participado de tal reunião. Mesmo assim,
foi para lá que a equipe da Polícia Federal se dirigiu no dia seguinte, 7 de
novembro, quando Adenilson foi assassinado.
“Ao
perceberem que a Operação Eldorado iria ocorrer na Aldeia Teles Pires, alguns
índios tentaram retirar os bens que achavam necessário para suas subsistências,
sendo que um dos caciques chegou perto do delegado tentando conversar com este
para que não desse continuidade na destruição da balsa. O denunciado afirmou
que a operação teria que ser realizada, e ainda empurrou a referida liderança
indígena. Em reação, um dos indígenas que estava no local empurrou o braço do
delegado Moriel, e como estavam próximos ao rio, em uma área de declive o
denunciado veio a cair na água. Após tal situação, policiais federais passaram
a atirar contra os indígenas e em
direção
ao rio. Atrás do cacique Camaleão estava um outro indígena, a vítima Adenilson
Kirixi Munduruku”, narra a denúncia do MPF.
Um dos
indígenas relatou os fatos que se seguiram, em depoimento ao MPF: “depois que o
delegado empurrou essa liderança na qual ele iria atirar, o segurança do
cacique empurrou o braço do delegado e ele escorregou e caiu na água, pois a
área tem declive e o chão é liso, de barro. Foi a partir daí que começou o
tiroteio. Nenhum indígena estava com arma de fogo. Os dois primeiros tiros
contra a vítima foram dados pelo delegado, que ainda estava dentro da água, que
estava pela cintura. Vários policiais começaram a atirar contra os indígenas
que estavam no local. Três tiros acertaram as pernas da vítima Adenilson Kirixi,
que perdeu o equilíbrio, caindo na água. Nesse momento o delegado, que ainda
estava dentro da água, deu um tiro na cabeça da vítima, que já caiu morta e
afundou no rio”.
O corpo
de Adenilson só foi recuperado no dia seguinte. Todos os agentes da PF presentes
na aldeia no momento do ataque disseram não se recordar dos fatos por estarem
ocupados tentando controlar os indígenas. Em vista disso, e com base nos
depoimentos dos indígenas, o MPF requisitou a exumação do corpo da vítima. O
exame comprovou a execução. O tiro fatal atingiu Adenilson na parte de trás da
cabeça, depois que três tiros nas pernas o tinham derrubado. A bala saiu pela
parte da frente da cabeça da vítima, destroçando vários ossos do crânio.
Outros
dois indígenas sofreram lesões corporais graves no dia 7 de novembro de 2012,
mas não foi possível localizar provas que relacionassem os ferimentos
diretamente aos agentes envolvidos na operação, por isso apenas o delegado
Moriel foi denunciado.
Processo
nº 0001608-90.2014.4.01.3908
Denúncia (trechos suprimidos contêm nomes de
testemunhas e imagens que poderiam agredir a família da vítima)
Ministério
Público Federal no Pará
Assessoria
de Comunicação
(91)
3299-0148 / 8403-9943 / 8402-2708
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