Clésio Antônio Sousa Carvalho e o filho foram descobertos em julho, após os cumprimentos de busca e apreensão
Após a deflagração da operação Rios
Voadores, que foi realizada em 30 de junho deste ano pela Polícia
Federal, Ministério Público Federal (MPF), Receita Federal e Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), novas fiscalizações ambientais em
Altamira (PA) permitiram a identificação de mais dois integrantes do
grupo responsável pelo maior desmatamento já detectado pelo poder
público na Amazônia.
Em 22 de julho, o Ibama multou em R$ 15,5
milhões Clésio Antônio Sousa Carvalho Filho pelo desmatamento de 5,2 mil
hectares, equivalente a um prejuízo ambiental calculado em R$ 102
milhões. Parte das áreas degradadas estava na principal área investigada
pela operação Rios Voadores, o que permitiu o aprofundamento das
investigações e a acusação contra Clésio e o pai como integrantes da
organização.
Segundo uma das mais recentes ações ajuizadas
neste mês de dezembro pelo MPF, Clésio Antônio Sousa Carvalho utilizava o
filho como testa de ferro para a prática das irregularidades
ambientais, colocando as propriedades em nome de Clésio Filho.
O MPF pediu à Justiça que obrigue os acusados a
recuperarem o desflorestamento que provocaram. Para isso, eles deverão
apresentar ao Ibama um plano de recuperação da área degradada, feito de
acordo com termo de referência a ser fornecido pela autarquia.
O plano deverá ser acompanhado de cronograma de
execução e de informações detalhadas acerca dos procedimentos
metodológicos e técnicos que serão utilizados, possibilitando ao Ibama
monitorar o andamento dos trabalhos.
Na ação, o MPF também pede que Clésio Carvalho e
o filho sejam obrigados a apresentar à Justiça, a cada seis meses,
laudo assinado por técnico do Ibama comprovando que eles estão em dia
com o cronograma de recuperação da área.
O MPF também pediu na ação que os acusados
sejam condenados a pagarem R$ 83,5 milhões pelos danos patrimoniais
provocados, mais pagamento de indenização por danos morais a serem
estabelecidos pela Justiça.
Foi pedido, ainda, que Clésio Antônio Sousa
Carvalho e Clésio Antônio Sousa Carvalho Filho sejam condenados a
providenciar a demolição de edificações construídas em áreas
irregulares, e que os dois fiquem impedidos de ter acesso a linhas de
financiamento ou a incentivos fiscais oferecidos pelo poder público, em
prazo a ser estabelecido pela Justiça.
Resumo - O MPF já encaminhou à Justiça
Federal em Altamira cinco denúncias criminais, duas ações civis públicas
ambientais (uma delas com bloqueio de bens já decretado no valor de R$
420 milhões) e uma ação civil pública por improbidade administrativa.
O grupo de acusados, segundo o MPF e o Ibama, é
responsável pelo desmate, entre 2012 e 2015, de 330 quilômetros
quadrados de florestas em Altamira, no Pará. A área é equivalente ao
território de municípios como Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG) ou
Recife (PE). O esquema conseguiu movimentar pelo menos R$ 1,9 bilhão.
Com um total de 24 acusados, as ações tratam de
crimes de submissão de trabalhadores a condições semelhantes às de
escravos, frustração de direitos trabalhistas, falsidade ideológica,
invasão e desmate ilegal de terras públicas, provocação de incêndios,
impedimento da regeneração de florestas, corrupção ativa e passiva,
sonegação de documentos, formação de organização criminosa e lavagem de
dinheiro, além de improbidade administrativa e responsabilização por
danos ambientais.
Os acusados estão sujeitos a penas de até 238
anos de prisão, multas, pagamento de R$ 503 milhões em prejuízos
ambientais, recuperação da área ilegalmente desmatada, demolição de
edificações construídas em áreas irregulares, e proibição, por até dez
anos, de acessar linhas de financiamento ou benefícios fiscais
oferecidos pelo poder público.
Além da atuação perante a Justiça Federal, as
investigações do caso Rios Voadores motivaram o MPF a expedir duas
recomendações. Uma foi enviada à Agência Estadual de Defesa Agropecuária
do Estado do Pará (Adepará), para que a autarquia disponibilize ao
Ibama acesso a todas as informações necessárias à fiscalização
ambiental. A outra teve como destinatário o Ibama, e indicou a
necessidade de a autarquia abrir processo administrativo para investigar
a regularidade ambiental de edificações nas áreas ilegalmente
desmatadas pela organização criminosa.
Também como parte das investigações do caso
Rios Voadores, o MPF abriu investigação para analisar as transações
comerciais entre integrantes da família Junqueira Vilela e três grandes
grupos empresariais: grupo JBS, o maior processador de carne bovina do
mundo, à Amaggi Exportação e Importação, uma das maiores companhias de
compra e venda de grãos do país, e aos dirigentes do grupo Bom Futuro –
outro líder no agronegócio – Elusmar Maggi Scheffer e Eraí Maggi
Scheffer.
Os trabalhos de investigação do caso Rios
Voadores também resultaram em provas que permitiram a reabertura de
inquérito sobre a tentativa de homicídio da trabalhadora rural sem-terra
Dezuíta Assis Ribeiro Chagas, crime ocorrido em 2015 no acampamento 1º
de Maio, na cidade de Euclides da Cunha Paulista, no interior de São
Paulo, na região conhecida como Pontal do Paranapanema. As provas
coletadas pelo MPF e utilizadas pelo Ministério Público do Estado de São
Paulo na denúncia ajuizada por tentativa de homicídio apontam AJ Vilela
como líder de um grupo responsável pela prática desse crime.
Números dos processos na Justiça Federal em Altamira (PA), com links para acompanhamento processual:
1503-60.2016.4.01.3903 (ação civil pública ambiental)
1607-52.2016.4.01.3903 (denúncia por trabalho escravo)
1924-50.2016.4.01.3903 (denúncia por trabalho escravo)
3080-73.2016.4.01.3903 (denúncia ambiental e falsidades - TI Menkragnoti e mais áreas)
3081-58.2016.4.01.3903 (denúncia ambiental e corrupção ativa/passiva)
3286-87.2016.4.01.3903 (denúncia organização criminosa e lavagem de bens)
3287-72.2016.4.01.3903 (ação civil pública por improbidade)
3288-57.2016.4.01.3903 (ação civil pública ambiental)
Relação de todas as pessoas físicas citadas nas ações:
Adilce Eleotério Garcia (Panquinha)
Adulão Alves de Lima
Ana Luiza Junqueira Vilela Viacava
Ana Paula Junqueira Vilela Carneiro Vianna
Antônio José Junqueira Vilela Filho
Arnildo Rogerio Gauer
Clésio Antonio Sousa Carvalho
Clesio Antonio Sousa Carvalho Filho
Douglas Dalberto Naves
Edson Mariano da Silva
Eremilton Lima da Silva
Jerônimo Braz Garcia
Laura Rosa Rodrigues de Sousa
Leilson Gomes Maciel
Marcio Kleib Cominho
Mariano Barros de Morais
Narciso Lidio Pereira Mascarenhas
Nilce Maia Nogueira Gauer
Obalúcia Alves de Sousa
Olivio Bertoldo João Bachmann
Ricardo Caldeira Viacava
Rodrigo Siqueira Pereto
Vanderley Ribeiro Gomes (vulgo Beto)
Waldivino Gomes Silva
Ministério Público Federal no Pará
Assessoria de Comunicação
Assessoria de Comunicação
Nenhum comentário:
Postar um comentário