Bois de áreas desmatadas eram vendidos como se tivessem sido criados em fazendas regularizadas
IBAMA/Everton Pimentel |
O grupo do pecuarista Antônio José Junqueira Vilela
Filho, apontado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e
pelo Ministério Público Federal (MPF) como o responsável pelo maior
desmatamento já ocorrido na Amazônia, vendia o gado criado em áreas
desmatadas por meio de esquema de lavagem de dinheiro.
Para tentar enganar a fiscalização, pouco antes da
comercialização o gado criado em área desmatada era transferido para
fazendas regularizadas. A manobra permitia que os criminosos
conseguissem a documentação necessária para fazer a venda a
frigoríficos, denunciou o MPF à Justiça Federal.
As fazendas utilizadas estavam em nome de “laranjas”,
pessoas cujos nomes serviam para ocultar as identidades dos verdadeiros
donos, os integrantes do grupo de Vilela Filho, também conhecido como AJ
Vilela ou Jotinha.
No entanto, a equipe de investigação da operação Rios
Voadores, que desmontou o esquema criminoso em junho deste ano,
verificou que notas fiscais emitidas por frigoríficos compradores do
gado acabaram sendo registradas em nome de integrantes do grupo.
O uso de “laranjas” como proprietários das fazendas
revendedoras de gado foi comprovado também na investigação, por meio de
diligências e obtenção de documentos.
As investigações também constataram que uma das fazendas
citadas não tinha tamanho nem infraestrutura suficientes para abrigar as
cabeças de gado que, segundo os documentos fraudados, teriam sido
criadas no local.
Para financiar o desmatamento e demais crimes cometidos, o
mandante, AJ Vilela, repassava recursos para os demais integrantes do
grupo por meio de uma empresa de fachada, a Sociedade Comercial do
Rochedo. Também foram encontrados repasses de recursos feitos a partir
das contas bancárias dos participantes do esquema.
Série - Esse é o terceiro texto de uma série de cinco que busca detalhar o conteúdo das novas ações ajuizadas este mês pelo MPF contra o grupo de AJ Vilela. Somadas às ações ajuizadas após a operação Rios Voadores, de junho deste ano, o MPF encaminhou à Justiça Federal em Altamira cinco denúncias criminais, duas ações civis públicas ambientais (uma delas com bloqueio de bens já decretado no valor de R$ 420 milhões) e uma ação civil pública por improbidade administrativa.
Série - Esse é o terceiro texto de uma série de cinco que busca detalhar o conteúdo das novas ações ajuizadas este mês pelo MPF contra o grupo de AJ Vilela. Somadas às ações ajuizadas após a operação Rios Voadores, de junho deste ano, o MPF encaminhou à Justiça Federal em Altamira cinco denúncias criminais, duas ações civis públicas ambientais (uma delas com bloqueio de bens já decretado no valor de R$ 420 milhões) e uma ação civil pública por improbidade administrativa.
O grupo de acusados, segundo o MPF e o Ibama, é responsável
pelo desmate, entre 2012 e 2015, de 330 quilômetros quadrados de
florestas em Altamira, no Pará. A área é equivalente ao território de
municípios como Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG) ou Recife (PE). O
esquema conseguiu movimentar pelo menos R$ 1,9 bilhão.
Com um total de 24 acusados, as ações tratam de crimes de
submissão de trabalhadores a condições semelhantes às de escravos,
frustração de direitos trabalhistas, falsidade ideológica, invasão e
desmate ilegal de terras públicas, provocação de incêndios, impedimento
da regeneração de florestas, corrupção ativa e passiva, sonegação de
documentos, formação de organização criminosa e lavagem de dinheiro,
além de improbidade administrativa e responsabilização por danos
ambientais.
Os acusados estão sujeitos a penas de até 238 anos de
prisão, multas, pagamento de R$ 503 milhões em prejuízos ambientais,
recuperação da área ilegalmente desmatada, demolição de edificações
construídas em áreas irregulares, e proibição, por até dez anos, de
acessar linhas de financiamento ou benefícios fiscais oferecidos pelo
poder público.
Além da atuação perante a Justiça Federal, as investigações
do caso Rios Voadores motivaram o MPF a expedir duas recomendações. Uma
foi enviada à Agência Estadual de Defesa Agropecuária do Estado do Pará
(Adepará), para que a autarquia disponibilize ao Ibama acesso a todas
as informações necessárias à fiscalização ambiental. A outra teve como
destinatário o Ibama, e indicou a necessidade de a autarquia abrir
processo administrativo para investigar a regularidade ambiental de
edificações nas áreas ilegalmente desmatadas pela organização criminosa.
Também como parte das investigações do caso Rios Voadores, o
MPF abriu investigação para analisar as transações comerciais entre
integrantes da família Junqueira Vilela e três grandes grupos
empresariais: grupo JBS, o maior processador de carne bovina do mundo, à
Amaggi Exportação e Importação, uma das maiores companhias de compra e
venda de grãos do país, e aos dirigentes do grupo Bom Futuro – outro
líder no agronegócio – Elusmar Maggi Scheffer e Eraí Maggi Scheffer.
Os trabalhos de investigação do caso Rios Voadores também
resultaram em provas que permitiram a reabertura de inquérito sobre a
tentativa de homicídio da trabalhadora rural sem-terra Dezuíta Assis
Ribeiro Chagas, crime ocorrido em 2015 no acampamento 1º de Maio, na
cidade de Euclides da Cunha Paulista, no interior de São Paulo, na
região conhecida como Pontal do Paranapanema. As provas coletadas pelo
MPF e utilizadas pelo Ministério Público do Estado de São Paulo na
denúncia ajuizada por tentativa de homicídio apontam AJ Vilela como
líder de um grupo responsável pela prática desse crime.
Números dos processos na Justiça Federal em Altamira (PA), com links para acompanhamento processual:
1503-60.2016.4.01.3903 (ação civil pública ambiental)
1607-52.2016.4.01.3903 (denúncia por trabalho escravo)
1924-50.2016.4.01.3903 (denúncia por trabalho escravo)
3080-73.2016.4.01.3903 (denúncia ambiental e falsidades - TI Menkragnoti e mais áreas)
3081-58.2016.4.01.3903 (denúncia ambiental e corrupção ativa/passiva)
3286-87.2016.4.01.3903 (denúncia organização criminosa e lavagem de bens)
3287-72.2016.4.01.3903 (ação civil pública por improbidade)
3288-57.2016.4.01.3903 (ação civil pública ambiental)
Relação de todas as pessoas físicas citadas nas ações:
1503-60.2016.4.01.3903 (ação civil pública ambiental)
1607-52.2016.4.01.3903 (denúncia por trabalho escravo)
1924-50.2016.4.01.3903 (denúncia por trabalho escravo)
3080-73.2016.4.01.3903 (denúncia ambiental e falsidades - TI Menkragnoti e mais áreas)
3081-58.2016.4.01.3903 (denúncia ambiental e corrupção ativa/passiva)
3286-87.2016.4.01.3903 (denúncia organização criminosa e lavagem de bens)
3287-72.2016.4.01.3903 (ação civil pública por improbidade)
3288-57.2016.4.01.3903 (ação civil pública ambiental)
Relação de todas as pessoas físicas citadas nas ações:
Adilce Eleotério Garcia (Panquinha)
Adulão Alves de Lima
Ana Luiza Junqueira Vilela Viacava
Ana Paula Junqueira Vilela Carneiro Vianna
Antônio José Junqueira Vilela Filho
Arnildo Rogerio Gauer
Clésio Antonio Sousa Carvalho
Clesio Antonio Sousa Carvalho Filho
Douglas Dalberto Naves
Edson Mariano da Silva
Eremilton Lima da Silva
Jerônimo Braz Garcia
Laura Rosa Rodrigues de Sousa
Leilson Gomes Maciel
Marcio Kleib Cominho
Mariano Barros de Morais
Narciso Lidio Pereira Mascarenhas
Nilce Maia Nogueira Gauer
Obalúcia Alves de Sousa
Olivio Bertoldo João Bachmann
Ricardo Caldeira Viacava
Rodrigo Siqueira Pereto
Vanderley Ribeiro Gomes (vulgo Beto)
Waldivino Gomes Silva
Ministério Público Federal no Pará
Assessoria de Comunicação
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