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DO JUIZ AO RÉU, TODO MUNDO LÊ O BLOG EDUCADORES DE PORTEL

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Eleição no SINTEPP: Chapa 1 ou Chapa 2?




"Vocês não prestam contas", disse um associado. "Você já  participou de alguma reunião?", indagou uma coordenadora. Ele disse: "Não". Ora, se não vai às reuniões, não participa, não greva, como contribuir para o fortalecimento da categoria?
Ao findar mais um mandato de bravos guerreiros à frente do SINTEPP, vários questionamentos surgem:

  • O Sindicato tem prestado contas regularmente?

  • Os atuais sindicalistas, que já mostraram bravura no enfrentamento dos poderosos, ficarão?

  • E os covardes, caso os corajosos partam, o que farão?

  • Aqueles que integraram mandatos anteriores e nunca foram a uma reunião, o que fazer com eles se querem novamente integrar?

  • Ou o que fazer se o cara veio a algumas reuniões e nunca mais apareceu?

  • E aquele cara que não grevou e foi dar aula agindo como um fura-greve? Mereceria confiança?

Importante lembrar que a greve já passou e arrancamos aquilo que o governo não queria dar. Mas tem algo pior vindo por aí: o governo agora, sob a desculpa de que tá faltando verba, quer tirar algumas vantagens dos servidores. E aí? Quem patina nos posicionamentos, teria coragem de enfrentar o grande tubarão?
De acordo com monitoramentos feitos junto a vereadores, já existem opiniões formadas quanto à redução, por exemplo, dos 80% hoje existentes quanto ao profissional que possuem nível superior. Dentre os defensores, existem vereadores formados como professor que defendem a redução dessa vantagem para 50%.

Outro ponto bastante crítico está relacionado ao posicionamento sobre o tipo de plano: unificado ou não. Há, dentro da Câmara, divisões quanto ao assunto. 

Entre uma das maiores barreiras dentro da organização sindical portelense situa-se na falta de integração. E não estamos falando apenas da não participação de coordenadores, mesmo que entendamos que muitos falharam no comprometimento assumido. Estamos falando da falta de coesão quanto aos lados a defender, pois é nítida a diferença entre governo e sindicato e, nesse quesito, é imprescindível saber de que lado nos posicionarmos. Vejo que muitos não resistem a um cargo ou aumento de carga horária que surgiu do nada, só pelo fato de integrar um organismo que jamais pode ser entendido como moeda de troca.

Durante a greve, vi diretores agirem contra a manifestação, assim como professores incutindo ideias governistas nas cabecinhas das crianças, tipo: são preguiçosos, estão chorando por causa de um salário, vocês vão ser prejudicados enquanto eles vão receber um bom dinheiro, etc. Não muito distante desse exemplo, testemunhamos, durante a ocupação da SEMED, um sujeito tentar uma sabotagem no sentido de incriminar os colegas sindicalistas. Furou porque foi detectado no ato! Agora este cara integra uma chapa. Que confiança podemos depositar em pessoas assim? Agindo a mando do governo e depois quer agir como sindicalista? Isso é um mercenário e terrorista!

Onde estavas quando o movimento tanto precisou? 


Impressionante, que ao fazermos tais ponderações, percebemos que os ataques se direcionam aos combativos membros da coordenação que ora se encerra. E tais pessoas que atacam pelas redes sociais e nos esquinas da cidade a afrontar a fama e a honra de homens e mulheres que possuem uma causa, um objetivo, onde estavam quando a greve estava no auge e a polícia foi chamada ou o chefe da segurança rasgava nossas faixas, alegando que fora mandado pelo prefeito? Aliás, seria cabível indagar qual a história de participação desses indivíduos nos movimentos populares. Outra tentativa de denegrir a imagem da instituição é: as mesmas caras e isso e aquilo... Ora, essas caras foram as que deram às tapas! Não são os mesmos, pois alguns vão saindo pra alçar voos mais altos e que, merecidamente, devem mesmo ocupar cargos dentro da organização regional, estadual e até nacional, dependendo da capacidade e do comprometimento. Por hoje, é só, gente!

terça-feira, 30 de julho de 2013

S.O.S - Acudam o município de Portel

Por Samuel Lima (*)

Era o ano de 1978. Estávamos na praia do cemitério, hoje, a praia do Arucará. De repente aparece no horizonte da baía o vulto de uma embarcação. Era o entardecer de um dia, como outro qualquer para nós, moleques, que, como de costume, era natural tomar banho na praia, após uma partida de futebol. A figura daquela nau veio singrando o rio-mar e cada vez mais se aproximando, e ao passo que se aproximava, aumentava de tamanho. 
Ficamos curiosos, pois, era diferente dos barcos conhecidos que costumeiramente vinham à nossa cidade. Não agüentando de tanta ânsia, corremos pra ver do que se tratava. Quando chegamos ao destino almejado, lá estava ele, aportado no Trapiche Municipal - o Navio Coronel José Júlio de Andrade, com três pavimentos e 300 tonelagens de capacidade, tamanho considerado grande pra época, construído em ferro maciço, típico daqueles que só se ver nos filmes hollywoodianos, do Século XIX que percorriam os rios estadunidenses, Missouri e Mississipi. Estava vindo de Monte Dourado. Objetivo de sua vinda: Contratar a preço irrecusável o que Portel tinha de melhor em termos de mão-de-obra para trabalhar no mega Projeto Jarí – empreendimento ambicioso do multibilionário americano Daniel Keity Ludwing. 
Lembro muito bem que muitos coleguinhas de escola não falavam de outra coisa senão “a nossa mudança pro Jarí. Era um corre-corre atrás de transferência escolar. Muitos funcionários da Companhia Amacool pediram demissão quase compulsoriamente, ao ponto de nem darem importância para suas indenizações trabalhistas e as implicâncias dela decorrente no futuro – na expectativa de terem dias melhores naquela gigantesca empresa que era noticiário mundial. A partir de então, hoje imagino que mesmo com a saída de toda aquela gente, nossa cidade não sentiu tanto abalo, do ponto de vista econômico-financeiro, pois, a oportunidade se abriria pra outros, principalmente para os coadjuvantes que preencheriam a vaga de seus oficiais. 
A matéria-prima era abundante na natureza, associada com a fartura de mão-de-obra disponível e de ausência de leis ambientais – o cenário era propício para a atividade madeireira made in brazil. Nunca se imaginava que um dia esse El dourado vegetal viesse ser escasso e motivo de grandes preocupações mundial. Por outro lado, o município de Portel era um encanto de cidadezinha interiorana. Seu povo era e ainda é gentil e cativante. Seus campos, rios e baías e cachoeiras paradisíacas. Sua fartura de carnes, peixes, farinha, castanha e outros produtos vegetais. As revoadas de andorinhas e outros pássaros que encobriam o sol no entardecer. Terra das moças bonitas, das festas populares e dos bailões nos clubes Camel e Fabril. Das prósperas Serrarias com seus eficazes e garbosos operários. Tudo deixava lembranças inesquecíveis nos visitantes e orgulhava os seus habitantes. Ligados a essa terra tranqüila e produtiva, sobressaem os nomes de personagens como Padre Antônio Vieira, Hugo Carlos Sabóia, Coronel Severiano de Moura, dentre outros. Foram tranqüilos os tempos dos prefeitos Oton Alves Fialho, Felizardo Justino Diniz, Elquias Nunes Monteiro e mais alguns, quando a cidade era asseada, as ruas eram trafegáveis, os meios-fios pintados de branco, nas festas cívicas os estudantes desfilavam e cantavam o hino nacional. O sossego público, o respeito e a honestidade eram uma realidade. 
Mas, hoje, tudo está mudado e, infelizmente, para pior. Hoje o município de Portel é uma amostra grátis do Brasil convulsionado, do povo revoltado, das cidades desgovernadas, do erário agredido, dos hospitais desprovidos, da educação reprovada, do desemprego, do alcoolismo e das drogas. Tudo é resultado dos últimos anos e mandatos seguidos de desgovernança e de omissão da fiscalização. E, atualmente, não há um administrador milagreiro que recupere o tempo perdido com o miserável FPM disponível num controvertido mandato de quatro anos. De nada adianta maquiar a cidade fazendo ações paliativas, removendo humildes trabalhadores de um lugar pra outros pra agradar meia dúzia de apaniguados. 
A informalidade evidencia nitidamente os sintomas de uma economia fragilizada. Mas agora nem esta é visível, o que pode ocasionar o passaporte pra atividades ilícitas, como visto nos noticiários negativos de Portel em cadeia nacional. Pouco adianta fazer inauguração de obras faraônicas, quando a maior parte da população não tem vínculo empregatício regular, por conta de um setor produtivo inexistente. O que existia, soube a poucos instantes que está prestes a combalir. Falo aqui da empresa Elmo Balbinot - que por falta de estímulos e ausências de políticas públicas está fechando suas portas, deixando centenas de pais de famílias desempregados, que com certeza, retornarão para Portel em busca de sobrevivência. 
É muito triste para quem viu e viveu os bons tempos e agora se depara com uma cidade decepcionante onde os urubus ocupam as ruas no amanhecer para catar as carniças espalhadas no meio do lixo não recolhido. Os cães vadios e pirentos deitados no meio das ruas. Nas esquinas e nos botecos magotes de desempregados, alguns embriagados, amaldiçoando a sorte madrasta, o desemprego, o preço da farinha, as derrotas dos seus clubes, o abandono em que se encontra a cidade, as mulheres infiéis (dos outros) e o descaminho dos recursos públicos. O povo brasileiro evoluiu no último século. O rádio, a televisão, a internet e a expansão do ensino quantitativo tornaram a cidadania mais esclarecida. 
Mas é incompreensível que, no mesmo período, a decadência da administração pública, a desonestidade geral e o desmoronamento moral da vida familiar avançassem tanto. As causas são discutíveis. E podem ser arroladas na superpopulação do planeta, na tolerância da justiça, na demagogia dos políticos compradores de voto, no avanço da ideologia socialista e nas enganosas bolsas- miséria. E pra piorar, só falta legalizar a maconha. Em cidades outrora ordeiras e pacatas, como Portel, o civismo, a honestidade e o respeito estão sumindo a olhos vistos. As drogas, a prostituição, os assaltos, a impunidade de corruptos e os sons ensurdecedores revelam a constante decadência de populações inteiras. A dúvida atroz é adivinhar onde vai parar essa decadência crescente. Por isso é quase inútil pensar num retorno pleno à paz, à tranqüilidade e à prosperidade de outrora. 
Mas uma cidade de passado heróico e de lembranças tão saudosas merece um esforço de todos que a querem bem, para recuperá-la do estado deprimente em que se encontra, para não figurar como o próximo município brasileiro, no fona do ranking nacional do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH (proclamado ontem pela ONU, que apontou nosso vizinho Melgaço, nessa incômoda posição). A luz vermelha já dá sinal de alerta.
*Portelense, economista, pesquisador-chefe do Instituto de Desenvolvimento Socioeconômico do Estado do Amapá e atual Secretário Municipal de Planejamento de Mazagão (AP). E-mail: samlima17@yahoo.com.br – face book: Samuel Barbosa Texto produzido em 30 de julho de 2013 – às 00h25minh

Pobreza do Marajó é evidenciada pelo IDH



Caiu como uma bomba a notícia televisiva sobre o pior Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do país: 0,418. O pior município do Brasil é Melgaço, nosso vizinho eleito pelo deputado Luis Rebelo. Como se não soubéssemos, dada a condição de vida nossa e de nossa vizinhança, amparados no Bolsa Família e com um sistema educacional pífio.

A constatação foi apontada pelo novo estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), divulgado nesta segunda-feira (29) e intitulado "Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013". 

Na Ilha do Marajó, além de Melgaço, as cidades paraenses de Chaves e Bagre também fazem parte da lista dos 10 piores IDHMs. Os índices consideram indicadores como o acesso adequado à saúde, renda e educação, e variam de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, melhor é índice.

Melgaço possui cerca de 24 mil habitantes, sendo que metade da população é analfabeta, segundo censo publicado em 2012 pelo IBGE. O pior IDH do país é marcada pelo analfabetismo e dependência financeira de programas sociais do Governo Federal.

Mas antes que a gente saia comemorando a desgraça alheia, como visto em redes sociais na Internet, é bom lembrar que Portel não está nada confortável neste índice. Situa-se, nesse caso, em 5553º lugar, com 0,483.

1°- Soure -  0,726
2°- Salvaterra  – 0,715
3°- Cachoeira Do Ararí  – 0,680
4°- São Sabastião Da Boa Vista –  0,666
5°- Muaná  - 0,653
6°- Ponta De Pedras – 0,652
7°- Gurupá -  0,631
8°- Breves  –  0,630
9°- Santa Cruz Do Arari  –  0,630
10°-Afuá  –  0,612
11°-Portel   -  0,608
12°-Curralinho  –  0,596
13°-Anajás -  0,595
14°-Chaves –  0,581
15°-Bagre  -  0,571
16°-Melgaço - 0,525   


Bom saber que cidades que servem de lazer para pessoas endinheiradas devem ser contabilizadas como um aparte na história de pobreza dos municípios da Ilha do Marajó. Basta olhar com frieza os documentos públicos de posse de propriedades, muitos dos quais moram em outros estados.

Soure e Salvaterra estão no topo, o que carece uma maior análise para que não pensemos que há algo melhor a elevar o nome do miserento aspecto social e econômico do Marajó. Situados como cidade veraneio, basta dar uma olhada nos cartórios para verificar que os proprietários vivem em cidades com melhor IDH.
 

Empresa do Elmo Balbinot: quais os prejuizos decorrentes do fechamento?



Dia 31 de agosto se aproxima e mais uma empresa baterá as portas: Elmo Balbinot. Em recente sessão interativa da Câmara Municipal de Portel, como ficam as promessas dos vereadores? O que será feito com o patrimônio, as terras do Elmo? O que é mesmo a empresa? Madeireira? Ou tem fazenda sob outra firma? Quantos funcionários perderão seus empregos? O que isso significa para a economia do município? Quanto a empresa contribui em impostos? Onde Elmo tem outros investimentos? Já se pensou o dono ou donos não serão afetados, exceto a população que depende direta e indiretamente do seu funcionamento? Esta publicação tenta responder a tais questionamentos.

PROMESSAS DOS VEREADORES

Com relação às promessas dos vereadores, acredita-se, pelas informações obtidas, essas estarão mesmo na gaveta das promessas.

A EMPRESA: SERRARIAS

Quanto às serrarias, estas vão passar por manutenção e serão lacradas. A empresa atua em Portel desde 1998. Quanto a outras empresas de Elmo Balbinot, leia um parágrafo quase ao final desta postagem.

AS TERRAS

As áreas do Elmo vão continuar sendo guardada pelos vigias. É, importante ressaltar que, durante esses 15 anos de atuação, o empresário Elmo tentou comprar do governo federal essas áreas através de títulos definitivos, pois já é detentor da posse, mas o governo nunca teve interesse em titular suas terras. Se o governo federal é impassível quanto à importância da titulação, pensa no governo municipal, que é outro que pode dizer morto, ou seja, não faz nada para que a população fique isenta da fome.

Sem terra titulada, não da pra fazer projeto de manejo sustentável e o termo sustentabilidade será apenas um slogan restrito ao mundo das palavras. Outro fator que governo não vê, é que quando se faz um projeto numa área, o detentor fica responsável pela área por 20 anos, ou seja, qualquer coisa que aconteça naquela área é de responsabilidade do detentor.

QUEM VAI PERDER COM O FECHAMENTO DA EMPRESA?

Há 5 anos atrás, a empresa gerava cerca de 200 postos de trabalho diretos, sem levar em consideração outros tantos indiretos. Atualmente são cerca de 100 famílias, que serão prejudicadas. Além dos prejuízos decorrentes da falta de emprego, os ribeirinhos perderão os benefícios que existem na área da empresa: Supermercado, padaria, açougue, escola, posto de saúde, etc. A implantação desses comércios contribui muito com os ribeirinhos que não precisam se deslocar até a sede do município de Portel para fazer compras.

Outro prejuízo aos moradores desta distante região será percebido no transporte, pois hoje existe barco de linha todos os dias, exceto segunda feira. “Se parar aqui, com certeza só ficará um uma vez por semana, ou nenhum”, afirma um morador.

O EMPRESÁRIO SERÁ PREJUDICADO? OU SÓ O POVO DE PORTEL?

O senhor Elmo tem outros investimentos. Só em Rondon do Pará, este homem que se firmou com um dos poucos que zelam pelo meio ambiente em Portel, possui aproximadamente 6 fazendas. Entre outros empreendimentos deste homem estão os secadores de soja, silos de armazenagem de soja, inclusive possui plantações de soja e milho. Balbinot é, atualmente, o maior produtor de soja de Rondon do Pará-Pa.

GERAÇÃO DE IMPOSTOS

Neste item, o blog Educadores de Portel ficou devendo aos seus milhares de leitores, especialmente ao povo de Portel, pois a quantidade de imposto gerada não pode ser quantificada. Afinal, são 15 anos.

Outras postagens sobre Elmo Balbinot:

http://educadoresdeportel.blogspot.com/2013/07/crimes-contra-as-madeireiras-de-portel.html
http://educadoresdeportel.blogspot.com/2013/05/jovem-desaparece-em-mata-densa-do-alto.html
http://educadoresdeportel.blogspot.com/2013/05/alunos-ficam-sem-aula-por-falta-de.html
 

domingo, 28 de julho de 2013

Homenagem ao dia dos pais e o meu primeiro corte de cabelo



Por Samuel Lima (*)

Olá!

É madrugada e estou sentado à mesa na qual me sento como artesão na arte de trabalhar meus projetos de ordem econômica e também nas horas vagas, na arte de trabalhar as letras – quando engendro minhas idéias - que preenchem este espaço diariamente.

A noite está fria, mas, maravilhosa. A minha rede está atada à minha espera - um pouco surrada, porém, macia e convidativa. Em alguns instantes depois, a noite ficou muito escura e esparsamente pontilhada de pontos cintilantes, prateados no universo escuro, por nuvens ameaçadoras de chuva, que castigaram a cidade, nesse inverno que não deu trégua.

Busco inspiração para escrever. A minha mente abstrai-se de tudo e o pensamento voa. Dos escaninhos de minhas lembranças distantes, como raios fulgurantes, emergem lembranças de um passado longínquo. Por não ter podido ir nesse final de férias pra nenhum lugar, especialmente à Portel (PA), minha cidade natal, as lembranças mais uma vez, me impeliram para viajar no túnel do tempo e relembrar os feitos de infância naquela encantadora terrinha. A partir de então, entrei no facebook e bati papo com vários amigos portelenses (Ronaldo de Deus, Miro Pereira, Roberto Andrada, J Raimundos e Raimundos, Vereador Ronaldo Alves, Carlos Moura, Rosana do Hotel Marino, Zezé do Castelo, Gerson Pereira e Joana Lima – minha irmã).

Após desligar o notebook, resolvi deitar, mas o sono não veio. Aí vieram as lembranças. Vejo-me pela primeira vez, diante de um homem magro, alto, de óculos fundo de garrafa – seu Antônio Canela, o temível barbeiro da cidade, que tal qual ao dentista, tinha o condão de amedrontar as crianças. Talvez tivesse uns seis anos de idade, quando chegou o dia aguardado da visita à barbearia.

Morávamos na Rua Castelo Branco, entre as ruas Padre Antônio Vieira e a Magalhães Barata. Era uma manhã de sábado. Meu pai tomou-me pela mão direita e na do meu irmão, o Lucio e seguimos à barbearia. Minha mãe passou sua mão tutelar sobre a minha cabeça, num carinho sutil e saímos como cordeiros ao matadouro. Um temor inquietante deixava-me nervoso.

Para mim, o barbeiro era um carniceiro, sempre com uma tesoura e uma navalha empunho, disposto a cortar o pescoço de menino chorão. Antecipadamente pensava no meu sangue que, certamente, o barbeiro faria jorrar. Passamos pela jaqueira do vizinho – um senhor cognominado “Tuxaua” – que morava na Rua 1º de Maio, esquina com a Magalhães Barata. As frutas expostas e com o seu cheiro convidativo, provocavam água na boca. Mesmo diante do medo, aquelas frutas convidavam despertar o apetite infantil. Fomos caminhando pela rua íngreme, lamacenta e escorregadia.

O meu pai resolveu conversar com a gente, para tirar-nos daquela mudez, quebrada apenas pelo nosso caminhar na depreciada rua. A jaqueira ficava cada vez mais distante. Mais adiante ficava a Grupinho “Jurú” vigiado pelo seu Aristides, onde crianças diferentes de mim, ali brincavam e, talvez, sem o medo de cortar o cabelo. Nosso pai nos animava. “Meninos, a barbearia (na casa do Seu Antônio Canela) não está muito longe”. Ficava próximo ao Clube de Mães, Na Rua Dez de Dezembro. Dobramos na esquina da Oficina de bicicletas do Seu Barbosa (Pai do Lourão), que cortava os remendos dos pneus furados com uma amolada faca, que fazia me lembrar da navalha afiada do barbeiro. Muitas pessoas iam e vinham. Umas com galinhas penduradas; outras com colchão de porco amarrado com barbante; outras com cachos de banana transportados na cabeça; outros empurrando com os pés o botijão de gás rumo ao depósito de vendas da concessionária de mesmo nome - a Paragás. Era um burburinho mercadológico de cidade interiorana.

Finalmente, chegamos à barbearia, uma sala desajeitada, quase envolvida de uma penumbra. Filtrada pelo clarão que projetava de uma pequena janela. Eu continuava mudo. O coração disparava e as mãos suavam frio. Os fregueses tagarelavam e riam e não sei de que. Não achava nenhuma graça daquela situação de agonia. O barbeiro querendo ser simpático cumprimentou meu pai e tirou uma “onda” comigo. Nem leu nos meus olhos o estado de nervos com que me encontrava, consolou-me, com palavras reanimadoras. Vi um filete de sangue jorrar do pescoço de um cliente. O barbeiro passou um liquido com um algodão tentando estancar o sangue. Aquilo me apavorava ainda mais. Está chegando a hora fatal. Quando o carrasco ia nos guilhotinar - foi quando ouvi dizer: “Seu Zé Oliveira, chegou à vez dos seus meninos e qual deles vai primeiro”? perguntou o profissional. “Vai aí o mais velho” – respondeu o papai, animado. Nesse momento tive vontade de correr, desaparecer. Meu pai pegou-me com seus braços fortes e colocou-me em cima de uma caixa de madeira, que havia sido colocada sobre a cadeira, para aumentar altura. Não tive alternativa senão chorar.

Eu já não chorava, gritava mesmo. O barbeiro embrulhou-me num pano branco, como se fosse uma mortalha, o que fez lembrar mais da morte. E continuava: ai! ai! não quero! não quero! Me largue seu Antônio Canela. Sacudia-me todo. O barbeiro para me acalmar disse: “fica quieto, senão vou cortar tua orelha”. A frase em vez de me acalmar, deu-me foi mais pavor, mas fui deixando aos poucos de me mexer. Meu pai impoluto, observava tudo com tranqüilidade. O barbeiro pode então começar cortar o meu cabelo e as primeiras mechas de cabelos lisos começaram cair no chão. No momento da navalha, meu pai a mim solidário, dispensou o uso daquele instrumento para fazer o pé do cabelo. Finalmente, depois do corte do meu irmão que não deu tanto trabalho como eu - papai pagou o barbeiro com algumas notas de um cruzeiro.

Ao voltarmos para nossa residência, passamos na baiúca do saudoso Sabá Correia e o papai comprou pra nós umas donzelas com guarasuco. Chegando em casa, nossa mãe, nos olhou e nos afagou, dizendo: aqueles cabelos eram dos que vão no navio dos cabeludos. Agora estão parecendo uns rapazinhos. Tempos depois, papai insistiu com aquela obsessão de mandar cortar nossos cabelos iguais aos dos milicos da época. Por estarmos vivendo na ditadura militar brasileira, quem era cabeludo era sinal de subversivo ou malandro. “Deus me livre de deixar meus filhos assim”, diziam as senhoras da época, fazendo o sinal da cruz.

Com o passar do tempo, apareceu o Edisvan Soares – que era um barbeiro bem mais atualizado, e começou fazer cortes mais bacanas e menos pelado. Mas o papai insistia com os cortes cuias - corte no pente zero com apenas o topete na extremidade frontal da cabeça. Certa vez, de tanto me darem selo (bofete na careca) e me chamarem de urubu pelado, fui humilhado dentro de sala de aula. Não titubeei dessa vez e respondi: “É o C da tua mãe”. Aí o ofensor se sentiu ofendido e disse: “Vou te pegar lá fora, no recreio”. “Umbora ver – respondi”. Quando bateu a campainha do intervalo, caímos na porrada no quintal da escola (Amazonas). Com isso fomos parar na secretaria. Ao ser inquirido pela diretora da época – Dona Maria Matos, disse: “Amanhã vocês só entrarão na escola com a presença dos pais de vocês aqui”. Era o fim de uma época (do corte de cabelo pelado) que hoje me traz nostalgia e risos.

Enfim, por estar findando o mês de julho e entrando no mês seguinte – que, segundo o calendário gregoriano, homenageia aos pais no segundo domingo de agosto. Em face disto, presto aqui em público o honroso e antecipadamente “FELIZ DIA DOS PAIS”, a todos os genitores brasileiros, em vida. Particularmente, aos portelenses e, em especial, a memória daqueles que já se foram - que para os filhos (as) nunca morreram e continuam seus eternos heróis – os quais descansam de suas fadigas e suas obras os acompanham, e dentre esses, jaz na minha mente, a eterna memória do senhor José de Oliveira Lima – O meu Pai.

(*) Portelense, economista, pesquisador e atual Secretário Municipal de Planejamento em Mazagão (AP). E-mail: samlima17@yahoo.com.br – facebook: Samuel Barbosa Texto publicado em 28 de julho de 2013, em Santana-AP – Brasil.