Nossa luta pela transparência continua. Aqui você sabe quanto foi repasado à conta do FUNDEB

DO JUIZ AO RÉU, TODO MUNDO LÊ O BLOG EDUCADORES DE PORTEL

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Uma manhã no hospital de Portel: baratas me mordam!

Como de costume, acordei bem cedo. Tinha a intenção de ir ao banco pegar algumas notas. Chovia, no entanto. Seria um desperdício sair da cama, que estava bem quentinha, por sinal. E com uma costela é um luxo só!

Por que seria um desperdício? Isso só verifiquei uma hora depois, quando finalmente a chuva resolveu dar uma trégua. Fui ao banco e constatei que havia um povaréu lá com cara de Amélia. O motivo de tanta desilusão era uma mensagem no monitor dos cinco terminais do banco: “Por favor, utilize outro terminal”. Portanto, fiz bem em ficar na cama, pois com uma mensagem dessa só pode ser terminal mesmo: o fim da picada!

Quando eu estava a ouvir as lamentações dos usuários – que eram professores que esperavam avidamente receber o pagamento que se encontra atrasado, já que deveria sair no último dia 5 -, recebi uma ligação do meu irmão Reginaldo. Como teria que trabalhar às 8 horas, pedia socorro para ser rendido no plantão no hospital como acompanhante de meu pai que sofreu um AVC há alguns dias e se encontra internado.  Na porta do hospital, com aqueles gradados que mais parece um cadeião, havia um homem de preto (Man in Black), que apesar de ser o segurança, levantava um ar sombrio. Olhava uma lista de pacientes para uma moça magra, também vestida de preto, mas nem olhou no meu olho. Permitiu a minha entrada, após eu me identificar como filho do Raimundo Paiva, o paciente vitimado por AVC.

No corredor ladeado por enfermarias, um cheiro de produtos de imunização e uma criancinha recém nascida que chorava muito. A luz piscava como se fosse falhar. E falhou mesmo logo em seguida! Agora, depois de banco e saúde falhando, até a energia elétrica começava a dar sinal de fraqueza e olha que estamos em plena era de Linhão do Marajó, a energia de qualidade e limpa! Em resposta a inoperância de um sistema moderno de energia – que nunca produz uma resposta ou satisfação por parte dos diretores da empresa responsável -, foi acionado um conjugado bem perto da sala onde meu pai se encontrava!

Creio que o conjugado não deve mais atender às exigências dos novos tempos, pois uma assistente social apareceu na sala e desligou a lâmpada, a pretexto de que a energia estava oscilando. Essa energia só voltou às 9:46. Mas enquanto isso, conversava com meu velho, iluminados por uma estreita veneziana, sobre as peripécias dele. Meu olhar, no entanto, percorria a sala e notava uma parede com rachaduras, deslizando do teto até a atingir as lajotas brancas ou quase brancas.

Na porta faltava uma fechadura, de modo que a mesma ficava sempre aberta e alvo de olhares de pessoas que passavam pelo corredor, que eram agentes de limpeza, pacientes que perambulavam de um lado a outro, doidos pra sair e voltar para seus lares ou mesmo médico, enfermeiras, um exército de servidores, mais do que pacientes.

Na porta do banheiro existe uma fechadura, mas se encontra com o trinco quebrado. Bem na entrada, no lado oposto da porta, via-se um bebedouro, de onde uma barata surgia como se resolvesse sair pra tomar um ar, imaginava eu. Essa barata me fez observar que o bebedouro estava ali só de enfeite. Coincidentemente, uma menina de aproximadamente 10 anos, que sofria de pneumonia, amassou o botão do ejetor de água e até que enfim percebeu que não estava ligado.

Notei que todo servidor ali era muito prestativo, muitos dos quais me conheciam e a meu pai também, que passavam e cumprimentavam sorrindo. Apenas uma mulher nova que, talvez por ainda estar com o academicismo na cabeça tipo essas meninas novas que acham que são debutantes de novelas sob o holofote, passava de cabeça erguida ou de cabeça baixa, como se fosse uma capataz.

A equipe de limpeza passou e deixou tudo com ar de novo. Reclamei do lençol molhado que incomodava meu pai, mas não houve fornecimento de um limpo. Fui até um departamento de enfermeiras e ali me disseram que não havia lençol, que todos estavam molhados. Ao longe, ouvi uma mulher dizer: “não tem nem pra remédio”.
Eis que é só. Bom dia.


Nenhum comentário: