Como de costume, acordei bem
cedo. Tinha a intenção de ir ao banco pegar algumas notas. Chovia, no entanto.
Seria um desperdício sair da cama, que estava bem quentinha, por sinal. E com
uma costela é um luxo só!
Por que seria um desperdício?
Isso só verifiquei uma hora depois, quando finalmente a chuva resolveu dar uma
trégua. Fui ao banco e constatei que havia um povaréu lá com cara de Amélia. O
motivo de tanta desilusão era uma mensagem no monitor dos cinco terminais do
banco: “Por favor, utilize outro terminal”. Portanto, fiz bem em ficar na cama,
pois com uma mensagem dessa só pode ser terminal mesmo: o fim da picada!
Quando eu estava a ouvir as
lamentações dos usuários – que eram professores que esperavam avidamente
receber o pagamento que se encontra atrasado, já que deveria sair no último dia
5 -, recebi uma ligação do meu irmão Reginaldo. Como teria que trabalhar às 8
horas, pedia socorro para ser rendido no plantão no hospital como acompanhante
de meu pai que sofreu um AVC há alguns dias e se encontra internado. Na porta do hospital, com aqueles gradados que
mais parece um cadeião, havia um homem de preto (Man in Black), que apesar de
ser o segurança, levantava um ar sombrio. Olhava uma lista de pacientes para
uma moça magra, também vestida de preto, mas nem olhou no meu olho. Permitiu a
minha entrada, após eu me identificar como filho do Raimundo Paiva, o paciente
vitimado por AVC.
No corredor ladeado por
enfermarias, um cheiro de produtos de imunização e uma criancinha recém nascida
que chorava muito. A luz piscava como se fosse falhar. E falhou mesmo logo em
seguida! Agora, depois de banco e saúde falhando, até a energia elétrica
começava a dar sinal de fraqueza e olha que estamos em plena era de Linhão do
Marajó, a energia de qualidade e limpa! Em resposta a inoperância de um sistema
moderno de energia – que nunca produz uma resposta ou satisfação por parte dos
diretores da empresa responsável -, foi acionado um conjugado bem perto da sala
onde meu pai se encontrava!
Creio que o conjugado não deve
mais atender às exigências dos novos tempos, pois uma assistente social
apareceu na sala e desligou a lâmpada, a pretexto de que a energia estava
oscilando. Essa energia só voltou às 9:46. Mas enquanto isso, conversava com
meu velho, iluminados por uma estreita veneziana, sobre as peripécias dele. Meu
olhar, no entanto, percorria a sala e notava uma parede com rachaduras,
deslizando do teto até a atingir as lajotas brancas ou quase brancas.
Na porta faltava uma fechadura,
de modo que a mesma ficava sempre aberta e alvo de olhares de pessoas que
passavam pelo corredor, que eram agentes de limpeza, pacientes que perambulavam
de um lado a outro, doidos pra sair e voltar para seus lares ou mesmo médico,
enfermeiras, um exército de servidores, mais do que pacientes.
Na porta do banheiro existe uma
fechadura, mas se encontra com o trinco quebrado. Bem na entrada, no lado
oposto da porta, via-se um bebedouro, de onde uma barata surgia como se
resolvesse sair pra tomar um ar, imaginava eu. Essa barata me fez observar que
o bebedouro estava ali só de enfeite. Coincidentemente, uma menina de
aproximadamente 10 anos, que sofria de pneumonia, amassou o botão do ejetor de
água e até que enfim percebeu que não estava ligado.
Notei que todo servidor ali era
muito prestativo, muitos dos quais me conheciam e a meu pai também, que
passavam e cumprimentavam sorrindo. Apenas uma mulher nova que, talvez por
ainda estar com o academicismo na cabeça tipo essas meninas novas que acham que
são debutantes de novelas sob o holofote, passava de cabeça erguida ou de
cabeça baixa, como se fosse uma capataz.
A equipe de limpeza passou e
deixou tudo com ar de novo. Reclamei do lençol molhado que incomodava meu pai,
mas não houve fornecimento de um limpo. Fui até um departamento de enfermeiras
e ali me disseram que não havia lençol, que todos estavam molhados. Ao longe,
ouvi uma mulher dizer: “não tem nem pra remédio”.
Eis que é só. Bom dia.
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